O Crime do Padre Amaro - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 298 / 478

O padre Amaro bateu com a mão na testa. Não se lembrara da paralítica!

- Isso estraga-nos o arranjinho, tio Esguelhas! exclamou.

Mas o sineiro tranquilizou-o, vivamente. Estava agora todo interessado naquela conquista de uma noiva para Nosso Senhor; queria por força que o seu telhado abrigasse a santa preparação da alma da menina... Talvez lhe atraísse a ele a piedade de Deus! Mostrou com calor as vantagens, as facilidades da casa. A Totó não embaraçava. Não se mexia da cama. O senhor pároco entrava pela cozinha do lado da sacristia, a menina vinha pela porta da rua: subiam, fechavam-se no quarto...

- E ela que faz, a Totó? perguntou o padre Amaro, hesitando ainda.

Coitadita, para ali estava... Tinha manias: ora fazia bonecas e apaixonava-se por elas a ponto de ter febre; outros dias passava-os num silêncio medonho com os olhos cravados na parede. Mas às vezes estava alegre, palrava, chalaceava... Uma desgraça!

- Devia-se entreter, devia ler, disse o padre Amaro para mostrar interesse.

O sineiro suspirou. Não sabia ler, a pequena, nunca quisera aprender. Era o que ele lhe dizia - se pudesses ler, já te não pesava tanto a vida! Mas então? Tinha horror a aplicar-se... O Sr. padre Amaro devia ter a caridade de a persuadir, quando viesse a casa...

Mas o pároco não o escutava, todo abismado numa ideia que lhe alumiara a face dum sorriso. Achara subitamente a explicação natural a dar à S. Joaneira e às amigas das visitas de Amélia a casa do sineiro: era a ensinar a ler a paralítica! A educá-la! A abrir-lhe a alma às belezas dos livros santos, da história dos mártires e da oração!...

- Está decidido, tio Esguelhas, exclamou, esfregando as mãos de júbilo. É em sua casa que se há-de fazer da rapariga uma santa. E disto - e a sua voz deu um grave profundo - um segredo inviolável!





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