O Crime do Padre Amaro - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 348 / 478

Às primeiras palavras, porém, do casamento com o escrevente, Amélia indignou-se com espalhafato.

- Nunca, antes morrer!

O quê? Ele punha-a naquele estado e agora queria descartar-se dela e passá-la a outro? Era ela porventura um trapo que se usa e que se atira a um pobre? Depois de ter posto fora de casa o homem, havia de humilhar-se, chamá-lo e cair-lhe nos braços?... Ah, não! Também ela tinha o seu brio! Os escravos trocavam-se, vendiam-se, mas era no Brasil!

Enterneceu-se então. Ah, ele já não a amava, estava farto dela! Ah, que desgraçada, que desgraçada que era! - Atirou-se de bruços para a cama e rompeu num choro estridente.

- Cala-te, mulher, que te podem ouvir na rua! dizia Amaro desesperado, sacudindo-a pelo braço.

- Não me importa! Que ouçam! Para a rua vou eu, gritar que estou neste estado, que foi o Sr. padre Amaro, e que me quer agora deixar!...

Amaro fazia-se lívido de raiva, com desejo furioso de lhe bater. Mas conteve-se; e com uma voz que tremia sob a sua serenidade:

- Tu estás fora de ti, filha... Dize lá, posso eu casar contigo? Não! Bem, então que queres? Se se percebe que estás assim, se tens o filho em casa, vê o escândalo!... Por ti, estás perdida, perdida para sempre! E eu, se se souber, que me sucede? Perdido também, suspenso, metido em processo talvez... De que queres tu que eu viva? Queres que morra de fome?

Enterneceu-se também àquela ideia das privações e das misérias do padre interdito. - Ah, era ela, era ela que o não amava, e que depois dele ter sido tão carinhoso e tão dedicado, lhe queria pagar com o escândalo e com a desgraça...

- Não, não, exclamou Amélia em soluços, lançando-se-lhe ao pescoço.

E ficaram abraçados, tremendo no mesmo enternecimento, - ela molhando de pranto o ombro do pároco, ele mordendo o beiço com os olhos todos turvos de água.





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