O Crime do Padre Amaro - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 350 / 478

Ela não respondeu, muito quebrada e muito triste, com duas lágrimas persistentes ao comprido das faces.

- Dize cá, tua mãe não desconfia de nada?

- Não, por ora não se percebe, respondeu ela com um grande ai.

Ficaram calados: ela limpando as lágrimas, serenando para sair; ele de cabeça baixa, trilhando lugubremente o soalho do quarto, pensando nas boas manhãs de outrora, quando só havia ali beijos e risadinhas abafadas; tudo mudara agora, até o tempo que estava todo nublado, um dia de fim de Verão, ameaçando chuva.

- Percebe-se que estive a chorar? perguntou ela, compondo ao espelho o cabelo.

- Não. Vais-te?

- A mamã está à minha espera...

Deram um beijo triste, e ela saiu.

* * *

No entanto a Dionísia farejava pela cidade na pista de João Eduardo. A sua atividade desenvolvera-se, sobretudo, mal soubera que o cónego Dias, o ricaço, estava interessado na pesquisa. E todos os dias, à noitinha, esgueirava-se cautelosamente pelo portão de Amaro a dar-lhe as novidades: já sabia que o escrevente estivera ao princípio em Alcobaça com um primo boticário; depois fora para Lisboa; ai, com uma carta de recomendação do doutor Gouveia, empregara-se no cartório dum procurador; mas o procurador, passados dias, por uma fatalidade, morrera de apoplexia; e desde então o rasto de João Eduardo perdia-se no vago, no caos da capital. Havia, sim, uma pessoa que lhe devia saber a morada e os passos: era o tipógrafo, o Gustavo. Mas infelizmente o Gustavo, depois duma questão com o Agostinho, deixara o Distrito e desaparecera. Ninguém sabia para onde fora; por desgraça, a mãe do tipógrafo não a podia informar - porque morrera também.





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