O Crime do Padre Amaro - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 354 / 478

Tinha ciúmes dela - que lhe tinham vindo ultimamente desde que a vira conformar-se àquele casamento odioso! Agora, que ela já não chorava, começava a enfurecer-se da falta das suas lágrimas; e secretamente desesperava-se dela não preferir a vergonha com ele à reabilitação com o outro. Não lhe custaria tanto se ela continuasse a barafustar, a fazer um alarido de prantos; isso seria uma prova séria de amor, em que a sua vaidade se banharia deliciosamente; mas aquela aceitação do escrevente agora, sem repugnância e sem gestos de horror, indignava-o como uma traição. Viera a suspeitar que a ela no fundo não lhe desagradava a mudança. João Eduardo por fim era um homem; tinha a força dos vinte e seis anos, os atrativos dum belo bigode. Ela teria nos braços dele o mesmo delírio que tinha nos seus... Se o escrevente fosse um velho consumido de reumatismo, ela não mostraria a mesma resignação. Então, por vingança de padre, para "lhe desmanchar o arranjo", desejava que João Eduardo não aparecesse: e muitas vezes, quando a Dionísia lhe vinha dar conta dos seus passos, dizia-lhe com um mau sorriso:

- Não se canse. O homem não aparece. Deixe lá... Não vale a pena ganhar dor de peito...

Mas a Dionísia tinha o peito forte - e uma noite veio, triunfante, dizer-lhe que estava na pista do homem! Vira enfim o Gustavo, o tipógrafo, entrar para a casa de pasto do tio Osório. Ao outro dia ia-lhe falar, e havia de se saber tudo...

Foi uma hora amargurada para Amaro. Aquele casamento, por que ansiara no primeiro momento de terror, agora, que o sentia seguro, parecia-lhe a catástrofe da sua vida.

Perdia Amélia para sempre!... Aquele homem que ele expulsara, que ele suprimira, ali lhe vinha, por uma destas peripécias malignas em que a Providência se compraz, levar-lhe a mulher legitimamente.





Os capítulos deste livro