E ele, Amaro, caminhava ao lado cantando o Requiem, de Breviário aberto numa mão, com a outra abençoando as velhas, as amigas da Rua da Misericórdia que se agachavam para lhe beijar a alva. às vezes voltava-se para gozar aquela pompa lúgubre, e via então a longa fila da confraria dos Nobres: aqui era um personagem pançudo e apoplético, além uma face de místico com um bigode feroz e dois olhos chamejantes; cada um levava uma tocha acesa, e na outra mão sustentava o chapéu cuja pluma negra varria o chão. Os capacetes dos arcabuzeiros reluziam; uma cólera devota contorcia as faces esfomeadas do populacho; e o préstito ondeava nas tortuosidades da rua, entre o clamor do cantochão, os gritos dos fanáticos, o dobrar aterrador dos sinos, o tlintlim das armas, num terror que enchia toda a cidade, - aproximando-se da plataforma de tijolo onde já fumegavam as pilhas de lenha.
E o seu desengano foi grande, depois daquela glória eclesiástica do sonho, quando a criada o veio acordar cedo com água quente para a barba.
Era pois nesse dia que se ia saber do Sr. João Eduardo, e escrever-se-lhe!... Devia encontrar-se com Amélia às onze horas; e foi a primeira coisa que lhe disse, atirando a porta do quarto com mau modo:
- O homem apareceu... Pelo menos apareceu o amigo intimo, o tipógrafo, que sabe onde a besta pára.
Amélia, que estava num dia de desalento e terror, exclamou:
- Ainda bem, que se acaba este tormento!
Amaro teve um risinho repassado de fel:
- Então agrada-te, hem?
- Se te parece, neste susto em que ando...