Como mulher, correra para o amor, toda tonta, certa que escaparia, ela, - e agora que sentia nas entranhas o filho, eram as lágrimas e os espantos e as queixas! A sua vida era lúgubre: de dia tinha de se conter diante da mãe, aplicar-se à sua costura, conversar, afetar felicidade... Era de noite que a imaginação desencadeada a torturava com uma incessante fantasmagoria de castigos, deste e do outro mundo, misérias, abandonos, desprezo da gente honrada e chamas do Purgatório...
Foi então que um acontecimento inesperado veio fazer diversão àquela ansiedade que se ia tomando um hábito mórbido do seu espírito. Uma noite a criada do cónego apareceu, esfalfada de correr, a dizer que a Sra. D. Josefa estava à morte.
Na véspera a excelente senhora sentira-se doente com uma pontada no lado, mas insistira em ir à Senhora da Encarnação rezar a sua coroa; voltou transida, com uma dor maior e uma ponta de febre; e nessa tarde, quando o doutor Gouveia foi chamado, tinha-se declarado uma pneumonia aguda. '
A S. Joaneira correu logo a instalar-se lá como enfermeira. E então, durante semanas, na tranquila casa do cónego, foi um alvoroço de dedicações aflitas: as amigas, quando se não espalhavam pelas igrejas a fazer promessas e a implorar os seus santos devotos, estavam lá em permanência, saindo e entrando no quarto da doente com passos de fantasmas, acendendo aqui e além lamparinas às imagens, torturando o doutor Gouveia com perguntas piegas. à noite na sala, com o candeeiro a meia luz, era pelos cantos um cochichar de vozes lúgubres; e ao chá, entre cada mastigadela de torrada, havia suspiros, lágrimas furtivamente limpadas...