Enfim, o pobre padre-mestre via diante de si todo um eriçamento de dificuldades para lhe sacudir a pachorra e estragar-lhe a digestão... - Mas o excelente cónego, no fundo, não se indignava; sempre tivera uma afeição de velho mestre pelo pároco; para a Amélia sempre o inclinara um fraco meio paternal, meio lúbrico; e mesmo já sentia pelo "pequeno" uma vaga condescendência de avô.
A porta abriu-se, e o pároco apareceu triunfante.
- Tudo às mil maravilhas, padre-mestre! Que lhe dizia eu?
- Consentiu?
- Em tudo. Não foi sem dificuldade... Ia-se abespinhado. Falei-lhe do homem casado... Que a rapariga estava com a cabeça perdida, queria-se matar... Que se ela não consentisse em encobrir a coisa era responsável por uma desgraça... Lembre-se a senhora que está agora com os pés pra cova, que Deus pode chamá-la dum momento a outro, e que se tiver na consciência este peso, não há padre que lhe dê a absolvição!... Lembre-se que morre para aí como um cão!...
- Enfim, disse o cónego aprovando, falou-lhe com prudência...
- Disse-lhe a verdade. Agora trata-se de falar à S. Joaneira, e de a levar para a Vieira quanto antes...
- Outra coisa, amigo, interrompeu o cónego. Tem você pensado no destino que se há-de dar ao fruto?
O pároco coçou desconsoladamente a cabeça:
- Ah, padre-mestre... Isso é outra dificuldade... Tem-me apoquentado muito... Naturalmente dá-lo a criar a alguma mulher, longe, lá pra Alcobaça ou para Pombal... A felicidade, padre-mestre, era que a criança nascesse morta!
- Era um anjinho mais... rosnou o cónego sorvendo a sua pitada.
* * *
Logo nessa noite ele falou à S. Joaneira da ida para a Vieira, embaixo na saleta onde ela estava arranjando pires de marmelada que andavam a secar para a convalescença da D. Josefa. Começou por dizer que lhe alugara a casa do Ferreiro...