O Crime do Padre Amaro - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 369 / 478

Enfim, o pobre padre-mestre via diante de si todo um eriçamento de dificuldades para lhe sacudir a pachorra e estragar-lhe a digestão... - Mas o excelente cónego, no fundo, não se indignava; sempre tivera uma afeição de velho mestre pelo pároco; para a Amélia sempre o inclinara um fraco meio paternal, meio lúbrico; e mesmo já sentia pelo "pequeno" uma vaga condescendência de avô.

A porta abriu-se, e o pároco apareceu triunfante.

- Tudo às mil maravilhas, padre-mestre! Que lhe dizia eu?

- Consentiu?

- Em tudo. Não foi sem dificuldade... Ia-se abespinhado. Falei-lhe do homem casado... Que a rapariga estava com a cabeça perdida, queria-se matar... Que se ela não consentisse em encobrir a coisa era responsável por uma desgraça... Lembre-se a senhora que está agora com os pés pra cova, que Deus pode chamá-la dum momento a outro, e que se tiver na consciência este peso, não há padre que lhe dê a absolvição!... Lembre-se que morre para aí como um cão!...

- Enfim, disse o cónego aprovando, falou-lhe com prudência...

- Disse-lhe a verdade. Agora trata-se de falar à S. Joaneira, e de a levar para a Vieira quanto antes...

- Outra coisa, amigo, interrompeu o cónego. Tem você pensado no destino que se há-de dar ao fruto?

O pároco coçou desconsoladamente a cabeça:

- Ah, padre-mestre... Isso é outra dificuldade... Tem-me apoquentado muito... Naturalmente dá-lo a criar a alguma mulher, longe, lá pra Alcobaça ou para Pombal... A felicidade, padre-mestre, era que a criança nascesse morta!

- Era um anjinho mais... rosnou o cónego sorvendo a sua pitada.

* * *

Logo nessa noite ele falou à S. Joaneira da ida para a Vieira, embaixo na saleta onde ela estava arranjando pires de marmelada que andavam a secar para a convalescença da D. Josefa. Começou por dizer que lhe alugara a casa do Ferreiro...





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