O Crime do Padre Amaro - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 370 / 478

- Mas isso é um nicho! exclamou ela logo. Onde hei-de eu meter a pequena?

- Ora ai é que está. É que justamente a Amélia desta vez não vai à Vieira.

- Não vai?

Foi só então que o cónego lhe explicou que a mana não podia ir só para a Ricoça, que ele tinha pensado em mandar com ela Amélia... Era uma ideia que lhe viera nessa manhã.

- Eu não posso ir, tenho de tomar os meus banhos, a senhora bem sabe... A pobre de Cristo não há-de estar para lá só, com uma criada. Portanto...

A S. Joaneira teve um silenciozinho desconsolado:

- Isso é verdade. Mas olhe, para lhe dizer com franqueza, custa-me bem deixar a pequena... Se eu pudesse dispensar os banhos, ia eu.

- Qual ia! A senhora vem para a Vieira. Eu também não hei-de estar lá só... Sua ingrata, sua ingrata!... - E tomando um tom muito sério: - A senhora veja bem. A Josefa está com os pés para a cova. Ela sabe que o que eu tenho para mim chega. Ela tem afeição à pequena, sempre é madrinha; se a vir agora a tratá-la na doença, a estar ali só com ela uns meses, fica pelo beiço. Olhe que a mana ainda vale um par de mil cruzados. A pequena pode apanhar um bom dote. Não lhe digo mais nada...

E a S. Joaneira concordou logo - uma vez que era vontade do senhor cónego.

Em cima, Amaro estava contando rapidamente a Amélia "o grande plano", a cena com a velha: que ela se prontificara logo, coitadinha, já cheia de caridade, desejando até ajudar para o enxoval do pequeno...

- Nela podes ter confiança, é uma santa... De modo que está tudo salvo, filha. É estar metida quatro ou cinco meses na Ricoça.

Era isso o que fazia choramigar Amélia: perder a estação da Vieira, o divertimento dos banhos!... Ir enterrar-se todo um Verão naquele sinistro casarão da Ricoça! A única vez que lá fora, já ao fim da tarde, ficara estarrecida de medo. Tudo tão escuro, dum eco tão côncavo... Tinha a certeza que ia lá morrer, naquele degredo.





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