- Mas isso é um nicho! exclamou ela logo. Onde hei-de eu meter a pequena?
- Ora ai é que está. É que justamente a Amélia desta vez não vai à Vieira.
- Não vai?
Foi só então que o cónego lhe explicou que a mana não podia ir só para a Ricoça, que ele tinha pensado em mandar com ela Amélia... Era uma ideia que lhe viera nessa manhã.
- Eu não posso ir, tenho de tomar os meus banhos, a senhora bem sabe... A pobre de Cristo não há-de estar para lá só, com uma criada. Portanto...
A S. Joaneira teve um silenciozinho desconsolado:
- Isso é verdade. Mas olhe, para lhe dizer com franqueza, custa-me bem deixar a pequena... Se eu pudesse dispensar os banhos, ia eu.
- Qual ia! A senhora vem para a Vieira. Eu também não hei-de estar lá só... Sua ingrata, sua ingrata!... - E tomando um tom muito sério: - A senhora veja bem. A Josefa está com os pés para a cova. Ela sabe que o que eu tenho para mim chega. Ela tem afeição à pequena, sempre é madrinha; se a vir agora a tratá-la na doença, a estar ali só com ela uns meses, fica pelo beiço. Olhe que a mana ainda vale um par de mil cruzados. A pequena pode apanhar um bom dote. Não lhe digo mais nada...
E a S. Joaneira concordou logo - uma vez que era vontade do senhor cónego.
Em cima, Amaro estava contando rapidamente a Amélia "o grande plano", a cena com a velha: que ela se prontificara logo, coitadinha, já cheia de caridade, desejando até ajudar para o enxoval do pequeno...
- Nela podes ter confiança, é uma santa... De modo que está tudo salvo, filha. É estar metida quatro ou cinco meses na Ricoça.
Era isso o que fazia choramigar Amélia: perder a estação da Vieira, o divertimento dos banhos!... Ir enterrar-se todo um Verão naquele sinistro casarão da Ricoça! A única vez que lá fora, já ao fim da tarde, ficara estarrecida de medo. Tudo tão escuro, dum eco tão côncavo... Tinha a certeza que ia lá morrer, naquele degredo.