O Crime do Padre Amaro - Cap. 21: Capítulo 21 Pág. 381 / 478

A não serem os deveres estritos que ele não podia desleixar sem escândalo e sem censura - desembaraçara-se, pouco a pouco, de todas as práticas do zelo interior: nem a oração mental, nem as visitas regulares ao Santíssimo, nem as meditações espirituais, nem o rosário à Virgem, nem a leitura à noite do Breviário, nem o exame de consciência - todas estas obras da devoção, estes meios secretos de santificação progressiva substituía-os pelos infindáveis passeios pelo quarto, do lavatório à janela, e por maços de cigarros fumados até ao negro dos dedos. A missa, pela manhã, era rapidamente engorolada; o serviço da paróquia feito com surdas revoltas de impaciência; tomara-se consumadamente o Indignus sacerdos dos ritualistas; e tinha na sua ampla totalidade os trinta e cinco defeitos e os sete meios defeitos que os teólogos atribuem ao mau padre.

Só lhe restava, através da sua sentimentalidade, um apetite tremendo. E como a cozinheira era excelente, e a Sra. D. Maria da Assunção, antes da sua partida para a Vieira, lhe deixara um fornecimento de cento e cinquenta missas a cruzado - banqueteava-se, tratando-se a galinha e a geleia, regando-se dum vinho picante da Bairrada que o padre-mestre lhe escolhera. E ali ficava à mesa, horas esquecidas, de perna esticada, fumando sobre o café, e lamentando não ter à mão a sua Ameliazita...

- Que fará ela por lá, a pobre Ameliazita? pensava, espreguiçando- se com tédio e com langor.

* * *

A pobre Ameliazita, na Ricoça amaldiçoava a sua vida.

Logo durante a jornada no char-á-banc D. Josefa lhe fizera tacitamente sentir que dela não tinha a esperar nem a antiga amizade, nem o perdão do escândalo... E assim foi, quando se instalaram.





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