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Capítulo 21: Capítulo 21

Página 384
O seu pensamento, sem nenhum tom de luz ou contorno de objeto em redor que o prendesse, ia muito saudoso para longe, para a Vieira; àquela hora a mãe e as amigas recolhiam do passeio na praia; já todas as redes estavam apanhadas; já pelos palheiros começam a aparecer as luzes; é a hora do chá, dos quinos alegres, quando os rapazes da cidade vão em rancho pelas casas amigas, com uma viola e uma flauta, improvisando soirées. E ela ali, só!...

Era então necessário deitar a velha, rezar com ela e com a Gertrudes o terço. Acendiam depois o candeeiro de latão, pondo-lhe diante uma velha chapeleira para dar sombra ao rosto da doente; e todo o serão, no silêncio lúgubre, apenas se ouvia o rumor do fuso da Gertrudes que fiava agachada a um canto.

Antes de se deitarem, iam trancar todas as portas, num medo constante de ladrões; e então começava para Amélia a hora dos terrores supersticiosos. Não podia adormecer, sentindo ao pé a negrura daquelas antigas salas desabitadas e em redor o tenebroso silêncio dos campos. Ouvia ruídos inexplicáveis: era o soalho do corredor que estalava, sob passadas multiplicadas; era a luz da vela que de repente se dobrava como sob um hálito invisível: ou a distância, para os lados da cozinha, o baque surdo dum corpo. Acumulava então as orações, encolhida debaixo da roupa; mas, se adormecia, as visões do pesadelo continuavam-lhe os terrores da vigília. Uma vez acordara de repente, a uma voz que dizia, gemendo, por trás da alta barra da cama: - Amélia, prepara-te, o teu fim chegou! Espavorida, em camisa, atravessou correndo a casa, foi refugiar-se na cama da Gertrudes.

Mas na noite seguinte a voz sepulcral voltou quando ela ia adormecer: Amélia, lembra-te dos teus pecados! Prepara-te, Amélia! Deu um grito, desmaiou. Felizmente a Gertrudes, que ainda se não deitara, correu àquele ai agudo que cortara o silêncio do casarão. Achou-a estirada ao través do leito, com os cabelos soltos da rede rojando no chão, as mãos geladas e como mortas.

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Capa do livro O Crime do Padre Amaro
Páginas: 478
Página atual: 384

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 10
Capítulo 3 19
Capítulo 4 45
Capítulo 5 59
Capítulo 6 77
Capítulo 7 93
Capítulo 8 111
Capítulo 9 123
Capítulo 10 142
Capítulo 11 182
Capítulo 12 204
Capítulo 13 217
Capítulo 14 236
Capítulo 15 272
Capítulo 16 290
Capítulo 17 313
Capítulo 18 319
Capítulo 19 344
Capítulo 20 361
Capítulo 21 376
Capítulo 22 395
Capítulo 23 425
Capítulo 24 455
Capítulo 25 469