Ia escurecendo já: a Gertrudes fora preparar o candeeiro. Amaro enfim ergueu-se:
- Pois, minha senhora, até outro dia. Esteja certa que hei-de aparecer de vez em quando. E nada de afligir... Agasalho, boa dieta, e a misericórdia de Deus não a há-de abandonar...
- Não nos falte, senhor pároco, não nos falte!...
Amélia estendera-lhe a mão, para se despedir ali no quarto; mas Amaro gracejando:
- Se não lhe causa incómodo, menina Amélia, sempre é bom vir mostrar-me o caminho, que eu perco-me neste casarão.
Saíram ambos. E apenas no salão, a que as três largas vidraças davam ainda uma claridade:
- A velha faz-te a vida negra, filha, disse Amaro parando.
- Que mereço eu mais? respondeu ela baixando os olhos.
- Desavergonhada, eu lhas cantarei!... Minha Ameliazinha, se soubesses o que me tem custado...
E falando, ia abraçá-la pelo pescoço.
Mas ela recuou, toda perturbada.
- Que é isso? fez Amaro assombrado.
- O quê?
- Esse modo! Tu não me queres dar um beijo, Amélia? Tu estás doida?
Ela ergueu as mãos para ele, numa suplicação ansiosa, falando toda trêmula:
- Não, senhor pároco, deixe-me! Isso acabou. Bem basta o que pecamos... Quero morrer na graça de Deus... Que nunca mais se fale em semelhante coisa!... Foi uma desgraça... Acabou-se... Agora o que quero é o sossego da minha alma...
- Tu estás tola? Quem te meteu isso na cabeça? Ouve cá...
Foi para ela outra vez, com os abraços abertos.
- Não me toque, pelo amor de Deus, - e vivamente recuou até à porta.
Ele olhou-a um momento, numa cólera muda.
- Bem, como queira, disse por fim. Em todo o caso, quero preveni- Ia que o João Eduardo voltou, que passa aqui todos os dias, e que é bom não se pôr de janela.