O Crime do Padre Amaro - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 400 / 478

Ia escurecendo já: a Gertrudes fora preparar o candeeiro. Amaro enfim ergueu-se:

- Pois, minha senhora, até outro dia. Esteja certa que hei-de aparecer de vez em quando. E nada de afligir... Agasalho, boa dieta, e a misericórdia de Deus não a há-de abandonar...

- Não nos falte, senhor pároco, não nos falte!...

Amélia estendera-lhe a mão, para se despedir ali no quarto; mas Amaro gracejando:

- Se não lhe causa incómodo, menina Amélia, sempre é bom vir mostrar-me o caminho, que eu perco-me neste casarão.

Saíram ambos. E apenas no salão, a que as três largas vidraças davam ainda uma claridade:

- A velha faz-te a vida negra, filha, disse Amaro parando.

- Que mereço eu mais? respondeu ela baixando os olhos.

- Desavergonhada, eu lhas cantarei!... Minha Ameliazinha, se soubesses o que me tem custado...

E falando, ia abraçá-la pelo pescoço.

Mas ela recuou, toda perturbada.

- Que é isso? fez Amaro assombrado.

- O quê?

- Esse modo! Tu não me queres dar um beijo, Amélia? Tu estás doida?

Ela ergueu as mãos para ele, numa suplicação ansiosa, falando toda trêmula:

- Não, senhor pároco, deixe-me! Isso acabou. Bem basta o que pecamos... Quero morrer na graça de Deus... Que nunca mais se fale em semelhante coisa!... Foi uma desgraça... Acabou-se... Agora o que quero é o sossego da minha alma...

- Tu estás tola? Quem te meteu isso na cabeça? Ouve cá...

Foi para ela outra vez, com os abraços abertos.

- Não me toque, pelo amor de Deus, - e vivamente recuou até à porta.

Ele olhou-a um momento, numa cólera muda.

- Bem, como queira, disse por fim. Em todo o caso, quero preveni- Ia que o João Eduardo voltou, que passa aqui todos os dias, e que é bom não se pôr de janela.





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