O Crime do Padre Amaro - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 420 / 478

Reclamara o padre Silvério, mas parecia que um reumatismo geral tolhia todo o clero diocesano; desde o princípio do Inverno o Silvério estava também de cama. O abade da Cortegassa, chamado urgentemente, veio - mas para lhe comunicar a receita nova que descobrira de fazer bacalhau à biscainha... Esta falta dum padre virtuoso dava-lhe um humor feroz, que recaia sobre Amélia numa chuva de impertinências.

E a boa senhora estava pensando seriamente em mandar a Amor pelo padre Brito - quando uma tarde, ao fim do jantar, inesperadamente, o senhor pároco apareceu!

Vinha magnífico, trigueiro do sol e do ar do mar, de casaco novo e botins de verniz. E palrando longamente acerca da Vieira, dos conhecidos que estavam, da pesca que fizera, dos soberbos quinos, fazia passar naquele triste quarto de doente velha todo um sopro vivificante da vida divertida à beira-mar. D. Josefa tinha duas lágrimas nas pálpebras do gozo de ver o senhor pároco, de o ouvir.

- E a mamã passa bem, disse ele a Amélia. Já tem os seus trinta banhos. Ganhou outro dia quinze tostões a uma batotinha que se arranjou... E por cá que têm feito?

Então a velha rompeu em queixumes amargos: Uma solidão! Um tempo de chuva! Uma falta de amizades! Ai! ela estava ali a perder a sua alma naquela quinta fatal...

- Pois eu, disse o padre Amaro traçando a perna, dei-me tão bem que estou com ideias de voltar para a semana.

Amélia, sem se conter, exclamou:

- Ora essa! outra vez!

- Sim, disse ele. Se o senhor chantre me der uma licença de um mês, vou lá passá-lo... Fazem-me uma cama na sala de jantar do padre-mestre, e tomo um par de banhos... Estava farto de Leiria, e daquele aborrecimento... '

A velha parecia desolada. O quê, voltar! Deixá-las ali a estarrecer de tristeza!





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