O Crime do Padre Amaro - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 421 / 478

Ele galhofou:

- Ora, as senhoras não precisam cá de mim. Estão bem acompanhadas...

- Eu não sei, disse a velha com azedume, se os outros - acentuou com rancor a palavra - se os outros não precisam do senhor pároco... Eu é que não estou bem acompanhada, estou aqui a perder a minha alma... Que as companhias que ai vêm não dão honra nem proveito.

Mas Amélia acudiu para contrariar a velha:

- E de mais a mais o Sr. abade Ferrão tem estado doente... Está com reumatismo. Sem ele a casa parece uma prisão.

D. Josefa deu um risinho de escárnio. E o padre Amaro, erguendo- se para sair, lamentou o bom abade.

- Coitado! Santo homem... Hei-de ir vê-lo em tendo vagar. Pois amanhã cá apareço, D. Josefa, e havemos de pôr essa alma em paz... Não se incomode, Sra. D. Amélia, eu sei agora o caminho.

Mas ela insistiu em o acompanhar. Atravessaram o salão sem uma palavra. Amaro calçava as suas luvas novas de pelica preta. E no alto da escada, muito cerimoniosamente, tirando o chapéu:

- Minha senhora...

E Amélia ficou petrificada vendo-o descer muito tranquilo - como se ela lhe fosse mais indiferente que os dois leões de pedra, que embaixo dormiam com o focinho nas patas.

Foi para o quarto chorar de bruços sobre a cama, de raiva e de humilhação. O infame! E nem uma palavra sobre o filho, sobre a ama, sobre o enxoval! Nem um olhar de interesse para o seu corpo desfigurado por aquela prenhez que ele lhe dera! Nenhuma queixa irritada por todos os desprezos que ela lhe mostrara! Nada! Calçava as luvas, com o chapéu do lado. Que indigno!

Ao outro dia o padre voltou mais cedo. Esteve muito tempo fechado no quarto com a velha.

Amélia, impaciente, rondava no salão com os olhos como carvões. Ele apareceu enfim, como na véspera, calçando as suas luvas com um ar próspero.

- Então já? disse ela numa voz que tremia.

- Já, sim, minha senhora. Estive numa praticazinha com a D. Josefa.





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