O Crime do Padre Amaro - Cap. 23: Capítulo 23 Pág. 436 / 478

Mas era o lacaio, sobretudo, que a encantava: e com o nariz nos vidros seguia-o num olhar guloso, até que à volta da estrada via desaparecer o pobre velho, de dorso corcovado, com a gola da farda até à nuca e as pernas bamboleantes.

E para João Eduardo que delícia aqueles passeios com os Morgaditos, na égua baia! Nunca deixava de ir à cidade: fazia-lhe bater o coração o som das ferraduras sobre o lajedo: ia passar diante da Amparo da botica, diante do cartório do Nunes, que tinha a sua banca ao pé da janela, diante da Arcada, diante do senhor administrador que lá estava na varanda de binóculo para a Teles - e o seu desgosto era não poder entrar com a égua, os Morgaditos e o lacaio pelo escritório do doutor Godinho que era no interior da casa.

Foi um dia, depois dum desses passeios triunfais, que voltando às duas horas da Barrosa, ao chegar ao Poço das Bentas e ao subir para o caminho de carros, viu de repente o Sr. padre Amaro que descia montado num garrano. Imediatamente João Eduardo fez caracolar a égua. O caminho era tão estreito, que apesar de se chegarem às sebes quase roçaram os joelhos - e João Eduardo pôde então, do alto da sua égua de cinquenta moedas, agitando ameaçadoramente o chicote, esmagar com um olhar o padre Amaro que se encolhia muito pálido, com a barba por fazer, a face biliosa, esporeando ferozmente o garrano ronceiro. No alto do caminho João Eduardo ainda parou, voltou-se sobre a sela, e viu o pároco que apeava à porta do casebre isolado onde há pouco, ao passar, os Morgaditos tinham rido "do anão".

- Quem vive ali? perguntou João Eduardo ao lacaio.

- Uma Carlota... Má gente, Sr. Joãozinho!





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