Foi necessário abrir ao Libaninho, apertar-lhe a mão, oferecer-lhe uma cadeira. Mas o Libaninho felizmente não se podia demorar. Passara na rua, e subira a saber se o amigo pároco tinha noticia daquelas santinhas da Ricoça.
- Vão bem, vão bem, disse Amaro que obrigava a face a sorrir, a prazentear.
- Eu não tenho podido ir lá, que tenho andado mais ocupado!... Estou de serviço no quartel... Não te rias, parocozinho, que estou lá fazendo muita virtude... Meto-me com os soldadinhos, falo-lhes das chagas de Cristo...
- Andas a converter o regimento, disse Amaro que mexia nos papéis da mesa, passeava, numa inquietação de animal preso.
- Não é para as minhas forças, pároco, que se eu pudesse!... Olha, agora vou eu levar a um sargento uns bentinhos... Foram benzidos pelo Saldanhinha, vão cheios de virtude. Ontem dei outros iguais a um anspeçada, perfeito rapaz, um amor de rapaz. Pus-lhos eu mesmo por baixo da camisola. Perfeito rapaz!...
- Devias deixar esses cuidados pelo regimento ao coronel, disse Amaro abrindo a janela, abafando de impaciência.
- Credo, olha o ímpio! Se o deixassem desbatizava o regimento. Pois adeus, parocozinho. Estás amarelinho, filho... Precisas purga, eu sei o que isso é.
Ia a sair, mas à porta, parando:
- Ai, dize cá, parocozinho, dize cá: tu ouviste alguma coisa?
- De quê?
- Foi o padre Saldanha que mo disse. Diz que o nosso chantre declarara (palavras do Saldanhinha) que lhe constava que ia na cidade um escândalo com um senhor eclesiástico... Mas não disse quem nem o quê... O Saldanha qui-lo sondar, mas o chantre diz que recebera só uma denúncia vaga, sem nome... Tenho estado a pensar: quem será?
- Pataratas do Saldanha...
- Ai, filho ! Deus queira que sejam. Que quem folga, são os ímpios... Quando fores pela Ricoça dá recados àquelas santinhas...