O Crime do Padre Amaro - Cap. 23: Capítulo 23 Pág. 448 / 478

Lançou-se então com calor numa dissertação sobre a sabedoria da Igreja, os seus altos estudos gregos e latinos, toda uma filosofia criada pelos santos padres...

- Leia S. Basílio! exclamou. Lá verá o que ele diz dos estudos dos autores profanos, que são a melhor preparação para os estudos sagrados! Leia a História dos mosteiros na meia-idade! Era lá que estava a ciência, a filosofia...

- Mas que filosofia, senhor, mas que ciência! Por filosofia meia dúzia de concepções dum espírito mitológico, em que o misticismo é posto em lugar dos instintos sociais... E que ciência! Ciência de comentadores, ciência de gramáticos... Mas vieram outros tempos, nasceram ciências novas que os antigos tinham ignorado, a que o ensino eclesiástico não oferecia nem base nem método, estabeleceu-se logo o antagonismo entre elas e a doutrina católica!... Nos primeiros tempos, a Igreja ainda tentou suprimi-las pela perseguição, a masmorra, o fogo! Escusa de se torcer, abade... O fogo, sim, o fogo e a masmorra. Mas agora não o pode fazer e limita-se a vituperá-las em mau latim... E no entanto continua a dar nos seus seminários e nas suas escolas e ensino do passado, o ensino anterior a essas ciências, ignorando-as, e desprezando-as, refugiando-se na escolástica... Escusa de apertar as mãos na cabeça... Estranha ao espírito moderno, hostil nos seus princípios e nos seus métodos ao desenvolvimento espontâneo dos conhecimentos humanos... O senhor não é capaz de negar isso! Veja o Syllabus no seu cânone décimo terceiro...

A porta abriu-se timidamente; era ainda a Dionísia:

- A pequena está a choramigar, diz que quer a criança.

- Mau, mau! disse o doutor.





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