O Crime do Padre Amaro - Cap. 24: Capítulo 24 Pág. 461 / 478

Amaro considerou-a um momento com um desejo brutal de a esganar; por fim meteu-lhe o dinheiro na mão. E ia trotando no carreiro, quando a sentiu ainda correndo, gritando pst! pst! A Carlota queria-lhe restituir o capote que ele emprestara na véspera: tinha feito muito bom serviço, que a criança chegara quente como um rojãozinho... Infelizmente...

Amaro já a não escutava, esporeando furiosamente a ilharga da cavalgadura.

Na cidade, depois de apear à porta do Cruz, não entrou em casa. Foi direito ao paço do bispo. Tinha agora uma ideia só: era deixar aquela cidade maldita, não ver mais as faces das devotas, nem a fachada odiosa da Sé...

Foi só ao subir a larga escadaria de pedra do paço, que lhe lembrou com inquietação o que o Libaninho dissera na véspera da indignação do senhor vigário-geral, da denúncia obscura... Mas a afabilidade do padre Saldanha, o confidente do paço, que o introduziu logo na livraria de sua excelência, tranquilizou-o. O senhor vigário-geral foi muito amável. Estranhou o ar pálido e perturbado do senhor pároco!...

- É que tenho um grande desgosto, senhor vigário-geral. Minha irmã está a morrer em Lisboa. E venho pedir a vossa excelência licença para lá ir, por uns dias...

O senhor vigário-geral consternou-se com bondade.

- Decerto, consinto... Ah! somos todos passageiros forçados da barca de Caronte.

Ipse ratem conto subigit, velisque ministrat

Et ferruginea subvectat corpora cymba.

Ninguém lhe escapa... Sinto, sinto... Não me esquecerei de a recomendar nas minhas orações...

E muito metódico, sua excelência tomou uma nota a lápis.





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