Se vossas senhorias tivessem visto como eu uma recepção nas Tulherias ou no Hotel de Ville, nos tempos do império, haviam de dizer, como eu, que a França é profundamente imperialista e só imperialista... Temos pois Napoleão III: ou talvez ele abdique, e a imperatriz tome a regência na menoridade do príncipe imperial... Eu aconselharia antes, e já o fiz saber, que era esta talvez a solução mais prudente. Como consequência imediata temos o papa em Roma, outra vez senhor do poder temporal... Eu, a falar a verdade, e já o fiz saber, não aprovo uma restauração papal. Mas eu não lhes estou aqui a dizer o que aprovo, ou o que reprovo. Felizmente não sou o dono da Europa. Seria um encargo superior à minha idade e às minhas enfermidades. Estou a dizer o que a minha experiência da Política e da História me aponta como certo. Dizia eu...? Ah! a imperatriz no trono de França, Pio Nono no trono de Roma, aí temos a democracia esmagada entre estas duas forças sublimes, e creiam vossas senhorias um homem que conhece a sua Europa e os elementos de que se compõe a sociedade moderna, creiam que depois deste exemplo da Comuna não se torna a ouvir falar de república, nem de questão social, nem de povo, nestes cem anos mais chegados!...
- Deus Nosso Senhor o ouça, senhor conde, fez com unção o cónego.
Mas Amaro, radiante de se achar ali, numa praça de Lisboa, em conversação íntima com um estadista ilustre, perguntou ainda, pondo nas palavras uma ansiedade de conservador assustado:
- E crê vossa excelência que essas ideias de república, de materialismo, se possam espalhar entre nós?
O conde riu: e dizia, caminhando entre os dois padres, até quase junto das grades que cercam a estátua de Luís de Camões:
- Não lhes dê isso cuidado, meus senhores, não lhes dê isso cuidado!