- Já lá vai o tempo, padre-mestre, disse e pároco rindo, já as não confesso senão casadas!
O cónego abandonou-se um momento a uma grande hilaridade; mas retomou o seu ar poderoso de padre obeso, vendo Amaro tirar profundamente o chapéu a um cavalheiro de bigode grisalho e óculos de ouro, que entrava na praça, do lado do Loreto, com o charuto cravado nos dentes e o guarda-sol debaixo do braço.
Era o Sr. conde de Ribamar. Adiantou-se com bonomia para os dois sacerdotes; e Amaro, descoberto e perfilado, apresentou "o seu amigo, o Sr. cónego Dias, da Sé de Leiria". Conversaram um momento da estação, que já ia quente. Depois o padre Amaro falou dos últimos telegramas.
- Que diz vossa excelência a estas coisas de França, senhor conde?
O estadista agitou as mãos, numa desolação que lhe assombreava a face:
- Nem me fale nisso, Sr. padre Amaro, nem me fale nisso... Ver meia dúzia de bandidos destruir Paris... O meu Paris!... Creiam vossas senhorias que tenho estado doente.
Os dois sacerdotes, com uma expressão consternada, uniram-se à do estadista.
E então o cónego:
- E qual pensa vossa excelência que será o resultado?
O Sr. conde de Ribamar, com pausa, em palavras que saíam devagar, sobrecarregadas do peso das ideias, disse:
- O resultado?... Não é difícil prevê-lo. Quando se tem alguma experiência da História e da Política, o resultado de tudo isto vê-se distintamente. Tão distintamente como os vejo a vossas senhorias.
Os dois sacerdotes pendiam dos lábios proféticos do homem do governo.
- Sufocada a insurreição, continuou o senhor conde olhando a direito de si com o dedo no ar, como seguindo, apontando os futuros históricos que a sua pupila, ajudada pelos óculos de ouro, penetrava - sufocada a insurreição, dentro de três meses temos de novo o império.