- A falar-lhe a verdade nem sequer reparei nela.
- Então que fez?
- Olhei para si, respondeu ele resolutamente.
Ela parou imediatamente, disse com a voz um pouco alterada:
- Onde vem a mamã?
- Deixe lá a mamã!
E João Eduardo, então, falando-lhe junto do rosto, disse-lhe "a sua grande paixão". Tomou-lhe a mão, repetia todo perturbado:
- Gosto tanto de si! Gosto tanto de si!
Amélia estava nervosa da música, do teatro; a noite quente de Verão, com a sua vasta cintilação de estrelas tomava-a toda lânguida. Abandonou a mão, suspirou baixinho.
- Gosta de mim, não é verdade? perguntou ele.
- Sim, respondeu ela, e apertou os dedos de João Eduardo com paixão.
Mas, como ela pensou, "fora decerto um fogacho" - porque, dias depois, quando conheceu mais João Eduardo, quando pôde falar livremente com ele, reconheceu que ''não tinha nenhuma inclinação pelo rapaz''. Estimava-o, achava-o simpático, bom moço; poderia ser um bom marido; mas sentia dentro em si o coração adormecido.
O escrevente porém começou a ir à Rua da Misericórdia quase todas as noites. A S. Joaneira estimava-o pelo seu "propósito" e pela sua honradez. Mas Amélia ia-se mostrando "fria": esperava-o à janela pela manhã quando ele passava para o cartório, fazia-lhe olhos doces à noite, - mas só para o não descontentar, para ter na sua existência desocupada um interessezinho amoroso.
João Eduardo um dia falou à mãe em casamento:
- Como a Amélia quiser, eu por mim... disse a S. Joaneira.
E Amélia, consultada, respondeu ambiguamente:
- Mais tarde, por ora não me parece, veremos.