O Primo Basílio - Cap. 6: CAPÍTULO VI Pág. 164 / 414

.. Em a mulher deitando o encanto, os homens começam a esmoecer, a arrepender-se, a apaixonar-se, e estão pelo beiço... A rapariga contou-me isso. Eu lembrei-me logo...

- De deitar uma sorte ao Conselheiro! - exclamou Luísa.

- Que te parece?

Luísa deu uma risada sonora. Mas D. Felicidade quase se escandalizou. Contou outros casos: um fidalgo que desonrara uma lavadeira; um homem que abandonou a mulher e os filhos, fugira com uma bêbeda... Em todos a sorte operara de um modo fulminante, produzindo um amor súbito e fogoso pela pessoa desprezada. Apareciam logo rendidos, se estavam perto; se estavam longe, voltavam, ávidos, a pé, a cavalo, na mala-posta, apressando-se, ardendo... E entregavam-se, mansos e humildes como escravos acorrentados...

- Mas o galego - continuava ela muito excitada - diz que para ir à terra, falar à mulher, levar o retrato do Conselheiro, é necessário o retrato dele, o meu, é necessário o meu; ir falar, voltar - quer sete moedas!...

- Oh! D. Felicidade! - fez Luísa repreensivamente.

- Não me digas, não venhas com as tuas! Olha que eu sei de casos...

E erguendo-se:

- Mas são sete moedas! Sete moedas! - exclamou, arregalando os olhos.

Juliana apareceu à porta, e muito baixinho, com um sorriso:

- A senhora faz favor?

Chamou-a para o corredor, em segredo:

- Esta carta. Que vem do hotel.

Luísa fez-se escarlate.

- Credo, mulher! Não é necessário fazer mistérios!

Mas não entrou no quarto, abriu-a logo no corredor; era a lápis, escrita à pressa:

"Meu amor" - dizia Basílio - "por um feliz acaso descobri o que precisávamos, um ninho discreto para nos vermos...

E indicava a rua, o número, os sinais, o caminho mais perto.

...Quando vens, meu amor? Vem amanhã.





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