.. Em a mulher deitando o encanto, os homens começam a esmoecer, a arrepender-se, a apaixonar-se, e estão pelo beiço... A rapariga contou-me isso. Eu lembrei-me logo...
- De deitar uma sorte ao Conselheiro! - exclamou Luísa.
- Que te parece?
Luísa deu uma risada sonora. Mas D. Felicidade quase se escandalizou. Contou outros casos: um fidalgo que desonrara uma lavadeira; um homem que abandonou a mulher e os filhos, fugira com uma bêbeda... Em todos a sorte operara de um modo fulminante, produzindo um amor súbito e fogoso pela pessoa desprezada. Apareciam logo rendidos, se estavam perto; se estavam longe, voltavam, ávidos, a pé, a cavalo, na mala-posta, apressando-se, ardendo... E entregavam-se, mansos e humildes como escravos acorrentados...
- Mas o galego - continuava ela muito excitada - diz que para ir à terra, falar à mulher, levar o retrato do Conselheiro, é necessário o retrato dele, o meu, é necessário o meu; ir falar, voltar - quer sete moedas!...
- Oh! D. Felicidade! - fez Luísa repreensivamente.
- Não me digas, não venhas com as tuas! Olha que eu sei de casos...
E erguendo-se:
- Mas são sete moedas! Sete moedas! - exclamou, arregalando os olhos.
Juliana apareceu à porta, e muito baixinho, com um sorriso:
- A senhora faz favor?
Chamou-a para o corredor, em segredo:
- Esta carta. Que vem do hotel.
Luísa fez-se escarlate.
- Credo, mulher! Não é necessário fazer mistérios!
Mas não entrou no quarto, abriu-a logo no corredor; era a lápis, escrita à pressa:
"Meu amor" - dizia Basílio - "por um feliz acaso descobri o que precisávamos, um ninho discreto para nos vermos...
E indicava a rua, o número, os sinais, o caminho mais perto.
...Quando vens, meu amor? Vem amanhã.