As duas horas Luísa saía da Encarnação e ia tomar um trem ao Rossio: para não parar à porta do Paraíso com espalhafato de tipóia, apeava-se ao Largo de Santa Bárbara; e fazendo-se pequenina, cosida com a sombra das casas, apressava-se com os olhos baixos, e um vago sorriso de prazer.
Basílio esperava-a deitado na cama, em mangas de camisa; para não se enfastiar, só, tinha trazido para o Paraíso uma garrafa de conhaque, açúcar, limões - e com a porta entreaberta fumava, fazendo grogues frios. O tempo arrastava-se; via a todo o momento as horas, e sem querer ia escutando, notando os ruídos íntimos da família da proprietária que vivia nos quartos interiores: a rabugem de uma criança, uma voz acatarroada que ralhava, e de repente uma cadelinha que começava a ladrar furiosa. Basílio achava aquilo burguês e reles; impacientava-se. Mas um frufru de vestido roçava a escada e os tédios dele, bem como os receios dela, dissipavam-se logo no calor dos primeiros beijos. Luísa vinha sempre com pressa; queria estar em casa às cinco horas, e era um estirão depois! Entrava um pouco suada, e Basílio gostava da transpiraçãozinha tépida que havia nos seus ombros nus.
- E teu marido? - perguntava ele. - Quando vem?
- Não fala em nada. - Ou então: - Não recebi carta, não sei nada.
Parecia ser aquela a preocupação de Basílio, na alegria egoísta da posse recente. Tinha então carícias muito extáticas; ajoelhava-se aos pés dela; fazia voz de criança:
- Lili não ama Bibi...
Ela ria, meio despida, com um riso cantado e libertino.
- Lili adora Bibi!... É doida por Bibi!
E queria saber se pensava nela; o que tinha feito na véspera. Fora ao Grêmio; jogara uns robbers, viera para casa cedo; sonhara com ela...
- Vivo para ti, meu amor, acredita!
- E deixava-lhe cair a cabeça no regaço, como sob uma felicidade excessiva.