O Primo Basílio - Cap. 1: CAPÍTULO I Pág. 19 / 414

Até breve, não? - E agora que Jorge ia para fora, havia de vir muito.- Adeus. Então a francesa, Rua do Ouro, por cima do estanque?

Luísa foi com ela até ao patamar. Leopoldina já no fundo da escada ainda parou gritou:

- Sempre te parece que guarneça o vestido de azul, hem?

Luísa debruçou-se sobre o corrimão:

- Eu assim fiz, é o melhor...

- Adeus! Rua do Ouro, por cima do estanque?

- Sim. Rua do Ouro. Adeus. - E com um gritinho: - Porta à direita. M.me François.

Jorge voltou às cinco horas, e logo da porta do quarto, pondo a bengala a um canto:

- Já sei que tiveste cá uma visita.

Luísa voltou-se, um pouco corada. Estava diante do toucador já penteada, com um vestido de linho branco, guarnecido de rendas

Era verdade, tinha vindo a Leopoldina. Juliana mandara-a entrar... Ficara mais contrariada! Era por causa da adresse da francesa dos chapéus. Tinha-se demorado dez minutos. - Quem te disse?

- Foi a Juliana; que a senhora D. Leopoldina tinha estado toda a tarde.

- Toda a tarde! Que tolice! Esteve dez minutos, se tanto!

Jorge tirava as luvas, calado. Chegou-se à janela, pôs-se a sacudir as duras folhas de uma begónia malhada de um vermelho doente, com uma baba prateada. Assobiava baixo; e parecia todo ocupado em conchegar um botão de amarilis aninhado entre a sua folhagem luzidia, como um pequenino coração assustado.

Luísa ia passando o seu medalhão de ouro numa longa fita de veludo preto, tinha uma tremura nas mãos, estava vermelha.

- O calor tem-lhes feito mal... - disse.

Jorge não respondeu. Assobiou mais alto, foi à outra janela, bateu com os dedos nas folhas elásticas de uma macoma de tons verdes e sanguíneos, e, alargando impacientemente o colarinho como um homem sufocado:

- Ouve lá, é necessário que deixes por uma vez de receber essa criatura.





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