Luísa foi com ela até ao patamar. Leopoldina já no fundo da escada ainda parou gritou:
- Sempre te parece que guarneça o vestido de azul, hem?
Luísa debruçou-se sobre o corrimão:
- Eu assim fiz, é o melhor...
- Adeus! Rua do Ouro, por cima do estanque?
- Sim. Rua do Ouro. Adeus. - E com um gritinho: - Porta à direita. M.me François.
Jorge voltou às cinco horas, e logo da porta do quarto, pondo a bengala a um canto:
- Já sei que tiveste cá uma visita.
Luísa voltou-se, um pouco corada. Estava diante do toucador já penteada, com um vestido de linho branco, guarnecido de rendas
Era verdade, tinha vindo a Leopoldina. Juliana mandara-a entrar... Ficara mais contrariada! Era por causa da adresse da francesa dos chapéus. Tinha-se demorado dez minutos. - Quem te disse?
- Foi a Juliana; que a senhora D. Leopoldina tinha estado toda a tarde.
- Toda a tarde! Que tolice! Esteve dez minutos, se tanto!
Jorge tirava as luvas, calado. Chegou-se à janela, pôs-se a sacudir as duras folhas de uma begónia malhada de um vermelho doente, com uma baba prateada. Assobiava baixo; e parecia todo ocupado em conchegar um botão de amarilis aninhado entre a sua folhagem luzidia, como um pequenino coração assustado.
Luísa ia passando o seu medalhão de ouro numa longa fita de veludo preto, tinha uma tremura nas mãos, estava vermelha.
- O calor tem-lhes feito mal... - disse.
Jorge não respondeu. Assobiou mais alto, foi à outra janela, bateu com os dedos nas folhas elásticas de uma macoma de tons verdes e sanguíneos, e, alargando impacientemente o colarinho como um homem sufocado:
- Ouve lá, é necessário que deixes por uma vez de receber essa criatura.