Iria, não iria? O calor fora, a poeirada da rua faziam-lhe apetecer mais a casa! Mas que desapontamento, o do pobre rapaz também! Atirou ao ar uma moeda de cinco tostões. Era cunho, devia ir. Vestiu-se sem vontade, secada - tendo todavia um certo desejo dos refinamentos de prazer que dão as expansões da reconciliação...
Mas que surpresa! Esperava encontrá-lo humilde e de joelhos; achou-o com a testa franzida e muito áspero.
- Luísa, parece incrível; por que não vieste ontem?
Na véspera, Basílio, quando viu que ela faltava, teve um grande despeito e medo maior; a sua concupiscência receou perder aquele lindo corpo de rapariga, e o seu orgulho escandalizou-se de ver libertar-se aquela escravazinha dócil. Resolveu portanto, a todo o custo, chamá-la ao rego. Escreveu-lhe; e mostrando-se submisso para a atrair, decidiu ser severo para a castigar. - E acrescentou:
- É uma criancice ridícula. Por que não vieste?
Aquele modo enraiveceu-a:
- Porque não quis.
Mas emendou logo:
- Não pude.
- Ah! É essa a maneira por que respondes à minha carta, Luísa?
- E tu, é esse o modo com que me recebes?
Olharam-se um momento, detestando-se.
- Bem; queres uma questão? És como as outras.
- Que outras?
E toda escandalizada:
- Ah! É demais! Adeus!
Ia sair.
- Vais-te, Luísa?
- Vou. É melhor acabarmos por uma vez...
Ele segurou o fecho da porta rapidamente.
- Falas sério, Luísa?
- Decerto. Estou farta!
- Bem. Adeus.
Abriu a porta para a deixar passar, curvou-se silenciosamente. Ela deu um passo, e Basílio com a voz um pouco trémula:
- Então, é para sempre? Nunca mais?
Luísa parou, branca. Aquela triste palavra nunca mais deu-lhe uma saudade, uma comoção. Rompeu a chorar.
As lágrimas tornavam-na sempre mais linda.