O Primo Basílio - Cap. 7: CAPÍTULO VII Pág. 198 / 414

Quando se veria enfim na sua casinha, na sua alcovinha?...

Ficou muito comovida. Um sentimento de vergonha, de remorso, uma compaixão terna por Jorge, tão bom, coitado! Um indefinido desejo de o ver e de o beijar, a recordação de felicidades passadas perturbaram-na até às profundidades do seu ser. Foi logo responder-lhe, jurando-lhe que também já estava farta de estar só, que viesse, que era estúpida semelhante separação... E era sincera naquele momento.

Tinha fechado o envelope, quando Juliana lhe veio trazer "uma carta do hotel". Basílio mostrava-se desesperado:

... Como não vieste, vejo que estás zangada; mas é decerto o teu orgulho, não o teu amor que te domina; não imaginas o que senti quando vi que não vinhas hoje. Esperei até às cinco horas; que suplício! Fui talvez seco, mas tu também estavas implicativa. Devemos perdoar-nos ambos, ajoelharmos um diante do outro, e esquecer todo o despeito no mesmo amor... Vem amanhã. Adoro-te tanto! Que outra prova queres, que esta que te dou de abandonar os meus interesses, as minhas relações, os meus gostos, e enterrar-me aqui em Lisboa, etc.

Ficou muito nervosa, sem saber o que havia de fazer, o que havia de querer. Aquilo era verdade. Por que estava ele em Lisboa? Por ela. Mas se reconhecia agora - que o não amava, ou tão pouco! E depois era vil trair assim Jorge, tão bom, tão amoroso, vivendo todo para ela. Mas se Basílio realmente estivesse tão apaixonado!... As suas idéias redemoinhavam, como folhas de outono, violentadas por ventos contraditórios. Desejava estar tranquila, que a não perseguissem. Para que voltara aquele homem? Jesus! Que havia de fazer? Tinha os seus pensamentos, os seus sentimentos numa dolorosa trapalhada.

E na manhã seguinte estava na mesma hesitação.





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