Basílio caiu-lhe aos pés; tinha também os olhos úmidos.
- Se tu me deixares, morro!
Os seus lábios uniram-se num beijo profundo, longo, penetrante. A excitação dos nervos deu-lhes momentaneamente a sinceridade da paixão; e foi uma manhã deliciosa.
Ela prendia-o nos braços nus, pálida como cera, balbuciava:
- Não me deixes nunca, não?
- Juro-to! Nunca, meu amor!
Mas fazia-se tarde; era necessário ir-se! E a mesma idéia decerto acudiu-lhes - porque se olharam avidamente, e Basílio murmurou:
- Se pudesses aqui passar a noite!
Ela disse aterrada, quase suplicante:
- Oh! Não me tentes, não me tentes...
Basílio suspirou, disse:
- Não, é uma tolice. Vai.
Luísa começou a arranjar-se, à pressa. E de repente, parando, com um sorriso:
- Sabes tu uma coisa?
- O quê, meu amor?
- Estou a cair com fome! Não almocei nada, estou a cair!
Ele ficou desolado:
- Coitadinha, minha pobre filha! Se eu soubesse...
- Que horas são, filho?
Basílio viu o relógio; disse quase envergonhado:
- Sete!
- Ai, Santo Deus!
Punha o chapéu, o véu, atrapalhadamente:
- Que tarde! Jesus! Que tarde!
- E amanhã, quando?
- À uma.
- Com certeza?
- Com certeza.
- Ao outro dia foi muito pontual. Basílio veio esperá-la ao fundo da escada; e apenas entraram no quarto, devorando-a de beijos:
- Que me fizeste tu? Desde ontem que estou doido!
Mas Luísa estava muito intrigada com um cesto que via em cima da cama.
- Que é aquilo?
Ele sorriu, levou-a pela mão junto da barra de ferro, e destapando o cesto, com uma cortesia grave:
- Provisões, festins, bacanais! Não dirás depois que tens fome!
Era um lanche. Havia sanduíches, um pâté de foie gras, fruta, uma garrafa de champanhe, e, envolto em flanela, gelo.