- Ora essa! Que pensas tu? Por uma carta, que quase não tinha mal nenhum, pagou uma pessoa que bate aí o Chiado de carruagem - ainda ontem a vi com uma pequerrucha que tem - pagou trezentos mil réis. E em belas notas. Pagou-os o janota, já se sabe; foi o janota que pagou. Se fosse outro, não digo, mas o Brito! É rico, é um mãos-rotas; cai logo...
Juliana, muito branca, agarrou-lhe o braço, trémula:
- Oh, tia Vitória! Dava-lhe um corte de seda.
- Azul! Até já te digo a cor!
- Mas o Brito é homem muito teso, tia Vitória; se lhe tira as cartas, se lhe faz alguma!
A tia Vitória. fitou-a com desdém:
- Sais-me uma simplória! Imaginas que eu mando lá algum tolo? Nem as cartas vão; o que vai é uma cópia! Olha quem! O melro que lá há de ir!
E depois de refletir um momento:
- Tu vai-te para casa...
- Não, lá isso não volto...
- Também tens razão. Até ver em que param as modas, vem cá dormir. Jantas cá hoje; tenho uma rica pescada...
- Mas não haverá perigo, tia Vitória, se o Brito vai à polícia...
A tia Vitória encolheu os ombros, e impacientada:
- Olha, vai-te, que me estás a enfrenesiar! Polícia! Qual polícia! Essas coisas levam-se lá à polícia... Deixa a coisa comigo! Adeus - e às quatro para jantar, hem!
Juliana saiu como levada pelo ar! Um conto de réis! Era o conto de réis que voltava, o que já um dia entrevira, que lhe fugira, que lhe vinha agora cair na mão, com um tlintlim de libras e um frufru de notas! E o cérebro enchia-se-lhe confusamente de perspectivas diferentes, todas maravilhosas; um mostrador de capelista onde ela venderia! Um marido ao seu lado, às horas da ceia! Pares de botinas das boas, das chiques. Onde poria o dinheiro? No banco?