Luísa acendeu as velas.
- E como me achas tu, hem? - perguntou D. Felicidade, pondo-se diante dela.
- Um bocadito mais pálida.
Ai! Tinha sofrido muito! Ergueu a saia, mostrou o pé calçado num sapato largo; obrigou Luísa a apalpá-lo... Que uma consolação lhe restava: é que toda a Lisboa a fora ver! Graças a Deus! Toda a Lisboa; o que há de melhor em Lisboa!
- E tu esta semana - acrescentou - nem apareceste! Pois olha que te cortaram na pele...
- Não pude, filha. O Jorge chega amanhã, sabias?
- Ah, sua brejeira! Viva! Está esse coraçãozinho aos pulos! - E disse-lhe um segredinho.
Riram muito.
- Pois eu - continuou D. Felicidade sentando-se - arranjei-te hoje a partida. Encontrei esta manhã o Conselheiro, que me disse que vinha. Encontrei-o aos Mártires! Olha que foi sorte, logo no primeiro dia que saí! E um bocado adiante dou com Julião; diz que também vinha!... - E com a voz desfalecida:
- Sabes? Tomava uma colherinha de doce...
Foi Luísa que abriu a porta ao Conselheiro e a Julião, que se tinham encontrado na escada, dizendo-lhes a rir:
- Hoje sou eu o guarda-portão!
D. Felicidade, na sala, para disfarçar a perturbação que lhe deu o espetáculo amado da pessoa de Acácio, começou, falando muito, a censurá-la por deixar assim sair no mesmo dia as duas criadas...
- E se te achares incomodada, filha; se te der alguma coisa?
Luísa riu. Não era afeta a fanicos...
Todavia achavam-na abatida. E o Conselheiro, com interesse:
- Tem continuado a sofrer dos dentes, D. Luísa?
Dos dentes? Era a primeira vez que tal ouvia! - exclamou D. Felicidade. Julião declarou que raras vezes vira uma dentição tão perfeita.
O Conselheiro apressou-se a citar: - Em lábios de coral, pérolas finas..