O Primo Basílio - Cap. 10: CAPÍTULO X Pág. 288 / 414

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Mas vendo o rosto perturbado de Luísa, os seus olhos vermelhos de lágrimas:

- Que é? Que tens tu? Que sucedeu?

- Um horror, Leopoldina! - exclamou, apertando as mãos. A outra foi fechar a porta, rapidamente.

- Então?

Mas Luísa chorava sem responder. Leopoldina olhava-a petrificada.

- A Juliana apanhou-me umas cartas! - disse enfim por entre soluços. - Quer seiscentos mil réis! Estou perdida... Tem-me martirizado... Quero que me digas, vê se te lembras... Estou como doida. Sou eu que faço tudo em casa... Morro, não posso! - E as lágrimas redobravam.

- E as tuas jóias?

- Valem duzentos mil réis. E Jorge, que lhe havia eu de dizer?

Leopoldina ficou um momento calada, e olhando em roda de si, abrindo os braços:

- Tudo o que eu tenho, no prego, minha filha, dá vinte libras!...

Luísa murmurava, limpando os olhos:

- Que expiação esta, Santo Deus, que expiação!

- Que diz a carta?

- Horrores! Estava doida... É uma minha, duas dele.

- De teu primo?

Luísa disse "sim", com a cabeça, lentamente.- E ele?

- Não sei! Está em França, nunca me respondeu.

- Pulha! Como tas apanhou, a mulher?

Luísa contou rapidamente a história do sarcófago, e do cofre.

- Mas tu também, Luísa, atirar uma carta dessas! Oh, mulher, isso é medonho!

E Leopoldina pôs-se a passear pelo quarto, arrastando a longa cauda do roupão escarlate; os seus grandes olhos negros, excitados, pareciam procurar um meio, um expediente... Murmurava:

- A questão é de dinheiro...

Luísa, prostrada no sofá, repetia:

- A questão é de dinheiro!

Então Leopoldina, parando bruscamente diante dela:

- Eu sei quem te dava o dinheiro!...

- Quem?

- Um homem.

Luísa ergueu-se, espantada:

- Quem?

- O Castro.





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