Luísa saíra, como louca. Na Rua da Escola um cupê passava, vazio: atirou-se para dentro, deu ao cocheiro a morada de Leopoldina. Leopoldina devia ter voltado do Porto; queria vê-la, precisava dela, sem saber para quê... Para desabafar! Pedir-lhe uma idéia, um meio de se vingar! Porque a vontade de se libertar daquela tirania - era agora menor que o desejo de se vingar daquelas humilhações. Vinham-lhe idéias insensatas! Se a envenenasse! Parecia-lhe que sentiria um prazer delicioso em a ver torcer-se com vômitos dilacerantes, uivando de agonia, largando a alma!
Galgou as escadas de Leopoldina; a campainha ficou a retinir muito tempo do puxão da sua mão febril.
A Justina apenas a viu foi a gritar pelo corredor:
- É a senhora D. Luísa, minha senhora, é a senhora D. Luísa!
E Leopoldina despenteada, com um roupão escarlate de grande cauda, correu estendendo os braços:
- És tu! Que milagre é este? Eu levantei-me agora! Entra cá para o quarto. Está tudo desarranjado, mas não importa. Mas que é isto, que é isto?
Abriu as janelas que estavam ainda cerradas. Havia um forte cheiro de vinagre de toalete; a Justina tirava à pressa uma bacia de latão, com água ensaboada; toalhas sujas arrastavam; sobre uma jardineira tinham ficado da véspera os rolos de cabelos, o colete, uma chávena com um fundo de chá cheio de pontas de cigarros. E Leopoldina corria o transparente, dizendo:
- Ora graças a Deus que honras esta casa, minha fidalga!.