O Primo Basílio - Cap. 10: CAPÍTULO X Pág. 292 / 414

Ali os tetos são baixos; as paredes caiadas faiscam ao sol, com as suas gradezinhas devotas; os sinos repicam no vivo ar azul; em roda, nos campos de oliveiras que dão azeite para o convento, raparigas varejam a azeitona cantando; no pátio lajeado de uma pedra miudinha as mulas do almocreve, sacudindo a mosca, batem com a ferradura; matronas cochicham ao pé da roda; um carro chia na estrada empoeirada e branca; galos cacarejam, brilhando ao sol; e freiras gordinhas, de olho negro chalram nos frescos corredores.

Ali viveria, engordando, com uma quebrazinha de sono à hora do coro, bebendo copinhos de licor de rosa no quarto da madre-escrivã, copiando receitas de doces com uma letra garrafal; morreria velha, ouvindo as andorinhas cantar à beira da sua grade; e o senhor bispo na sua visita, com a pitada nos seus dedos brancos, ouviria sorrindo da boca da madre-abadessa a história edificante da sua santa morte

Um sacristão, que passava, escarrou fortemente; e, como um bando de pássaros que se calam a um ruído brusco, todos os seus sonhos fugiram. Suspirou, ergueu-se devagar, foi indo para casa, triste.

Foi Juliana quem veio abrir, e logo no corredor, com a voz suplicante e baixa:

- A senhora por quem é perdoe, que depois estava doida! Estava com a cabeça perdida, não tinha dormido nada toda a noite. Fiquei mais aflita...

Luísa não respondeu, entrou na sala. Sebastião, que vinha jantar, tocava a serenata de D. Juan - e apenas ela apareceu:

- De onde vem, tão pálida?

- Debilidade, Sebastião, venho da igreja...

Jorge entrava do escritório com uns papéis na mão:

- Da igreja! - exclamou. - Que horror!





Os capítulos deste livro