A melancólica atitude do seu corpo abatido enfureceu Jorge:
- Ó Sebastião, fazes-me favor de tocar o fandango, o Barba-Azul, o Pirolito, o diabo? Senão, se querem melancolia, eu começo com o cantochão!
E cantou, com um tom fúnebre:
- Dies irae, dies illae, Solvunt saecula in favilia!..
Luísa riu-se:
- Que doido! Nem pode a gente estar triste...
- Pode! - exclamou Jorge. - Mas então venha a bela tristeza, venha a tristeza completa. - E com uma voz medonha entoou o Bendito!
- Os vizinhos hão de dizer que estamos doidos, Jorge... - acudiu ela.
- É justamente o que nós estamos! - E entrou no escritório, atirando com a porta.
Sebastião bateu alguns compassos, e voltando-se para ela, baixo:
- Então que idéias são essas? Que melancolia é essa?
Luísa ergueu os olhos para ele; viu a sua face boa e amiga, cheia de simpatia; ia talvez dizer-lhe tudo numa explosão de dor, mas Jorge saía do escritório. Sorriu, encolheu os ombros, retomou devagar o seu crochê.
No domingo seguinte, à noite, conversava-se na sala. Julião contara o seu concurso. Em resumo, estava contente: tinha falado duas horas bem, com precisão, com lucidez.
O Dr. Figueiredo dissera-lhe que devia ter amenizado um bocado mais...
- Literatos! - fazia Julião encolhendo os ombros com desprezo.