O Primo Basílio - Cap. 11: CAPÍTULO XI Pág. 316 / 414

Juliana, muito fatigada, ainda estava na cama. E enquanto Joana punha a mesa, Luísa sentada na voltaire. à janela da sala de jantar, lia maquinalmente o Diário de Notícias, quase sem compreender, quando uma notícia, no alto da página, lhe deu um sobressalto:

"Parte além de amanhã para França o nosso amigo e conhecido banqueiro Castro, da firma Castro Miranda & Cia. Sua Excelência retira-se dos negócios da praça, e vai estabelecer-se definitivamente em França, perto de Bordéus, onde comprou ultimamente uma valiosa propriedade."

O Castro! O homem que lhe dava dinheiro, o que ela quisesse!, dizia Leopoldina. Partia!... E apesar de ter achado, desde o primeiro momento, aquele recurso infame, vinha-lhe a seu pesar como uma desconsolação de o ver desaparecer! Porque nunca mais voltaria a Portugal, o Castro!... E de repente uma idéia atravessou-a, que a fez vibrar toda, erguer-se direita, muito pálida. - Se na véspera da partida dele, Santo Deus! se na véspera ela consentisse!... Oh! Era horrível! Nem pensar em tal!...

Mas pensou - e sentia-se toda fraca contra uma tentação crescente, que se lhe enroscava na alma com caricias persuasivas. É que então estava salva! Dava seiscentos mil réis a Juliana! E o demônio iria morrer para longe!

E ele, o homem, tomaria o paquete! Não teria de corar diante dele e o seu segredo ia para o estrangeiro, tão perdido como se fosse para o túmulo! - E, além disso, se o Castro tinha uma paixão por ela, era bem possível que lhe emprestasse, sem condições!...

Bom Deus! No dia seguinte podia ter ali na algibeira do seu roupão as notas, o ouro... Por que não? - Por que não? E vinha-lhe um desejo ansioso de se libertar, de viver feliz, sem agonias, sem martírios...

Voltou ao quarto. Pôs-se a remexer no toucador, olhando de lado Jorge que se vestia.





Os capítulos deste livro