campo, gozava, vivia, sem ter como ela uma tortura a minar-lhe, a estragar-lhe a vida! Ah! Não voltaria para casa sem levar na algibeira em boas libras o resgate, a salvação! Ainda que tivesse de ser vil como as do Bairro Alto! Estava farta das humilhações, dos sustos, das noites cortadas de pesadelos!... Queria saborear a vida, que diabo! O seu amor, o seu jantar, sem cuidados, com o coração contente!
- Vê lá - disse Leopoldina, lendo:
Meu Caro Amigo.
Desejo absolutamente falar-lhe. É um negócio grave. Venha logo que possa. Talvez me agradeça. Espero até às três horas, o mais tardar.
Com toda a estima,
Sua amiga
Leopoldina.
- Que te parece?
- Horrível! Mas está bem... Está muito bem! Risca-lhe o "talvez me agradeça". É melhor.
Leopoldina copiou o bilhete, mandou-o pela Justina, num trem.
- E agora vou almoçar, que me não tenho nas pernas.
A sala de jantar dava para um saguão estreito. As paredes estavam cobertas de uma pintura medonha, em que grandes manchas verdes semelhavam colinas, e linhas azul-ferretes representavam lagos. Um armário, no ângulo da parede, servia de guarda-louça. As cadeiras de palhinha tinham almofadinhas de paninho vermelho; e na toalha havia nódoas do café da véspera.
- De uma coisa podes tu ter a certeza - dizia Leopoldina, bebendo grandes goles de chá -, é que o Castro é um homem para um segredo!... Se te emprestar o dinheiro, que empresta, daquela boca não sai uma palavra. Lá nisso é perfeito... Olha que foi o amante da Videira anos! E nem ao Mendonça, que é o seu íntimo, disse uma palavra. Nem uma alusão! E um poço.
- Que Videira? - perguntou Luísa.
- Uma alta, de nariz grande, que tem um landô.
- Mas passa por uma mulher tão séria...
- Já tu vês! - E com um risinho: - Ai elas passam, passam.