- Que dizes tu a isto? - disse-lhe D. Felicidade.
Ela ergueu o rosto, risonha, encolheu os ombros...
E o Conselheiro logo:
- A senhora D. Luísa diz com orgulho o que dizem as verdadeiras mães de família:
Impurezas do mundo não me roçam Nem a fímbria da túnica sequer.
- Ora, muito boas noites - disse, à porta, uma voz grossa.
Voltaram-se.
Ó Sebastião! O Sr. Sebastião! Ó Sebastiarrão!
Era ele, Sebastião, o grande Sebastião, o Sebastiarrão, Sebastião tronco de árvore - o íntimo, o camarada, o inseparável de Jorge desde o Letim, na aula de Frei Libório aos paulistas.
Era um homem baixo e grosso, todo vestido de preto, com um chapéu mole desabado na mão. Começava a perder um pouco na frente os seus cabelos
castanhos e finos. Tinha a pele muito branca, a barba alourada e curta. Veio sentar-se ao pé de Luísa.
- Então de onde vem, de onde vem?
Vinha do Price. Rira muito com os palhaços. Houvera a brincadeira da pipa.
O seu rosto, em plena luz, tinha uma expressão honesta, simples, aberta: os olhos pequenos, azuis de um azul-claro, de uma suavidade séria, adoçavam-se muito quando sorria; e os beiços escarlates, sem películas secas, os dentes luzidios revelavam uma vida saudável e hábitos castos. Falava devagar, baixo, como se tivesse medo de se manifestar ou de fatigar. Juliana trouxera-lhe a sua e remexendo o açúcar com a colher direita, os olhos ainda a rir, um sorriso bom:
- A pipa tem muita graça! Muita graça!
Sorveu um gole de chá e depois de um momento:
- E tu, maroto, sempre partes amanhã? Não há umas tentaçõezinhas de ir por aí fora com ele, minha cara amiga?
Luísa sorriu. Tomara ela! Quem dera! Mas era uma jornada tão incómoda! Depois a casa não podia ficar só, não havia que fiar em criados.