O Primo Basílio - Cap. 15: CAPÍTULO XV Pág. 391 / 414

aquele delírio revelasse tudo a Julião, às criadas; tinha um suor à raiz dos cabelos - e quando ela, um momento, julgando-se no Paraíso - e nas exaltações do adultério, chamou Basílio, pediu champanhe, teve palavras libertinas, Jorge fugiu da alcova alucinado, foi. para a sala às escuras, atirou-se para o divã a soluçar, arrepelou-se, blasfemou.

- Está em perigo? - perguntou Sebastião.

- Está - disse Julião. - Se sentisse os sinapismos, ao menos! Mas estas malditas febres cerebrais...

Calaram-se vendo Jorge entrar na alcova, com o rosto manchado, esguedelhado.

E Julião tomando-o pelo braço, levando-o para fora:

- Ouve lá, é necessário cortar-lhe o cabelo, e rapar-lhe a cabeça.

Jorge olhou-o com um ar estúpido:

- O cabelo? - E agarrando-lhe os braços: - Não, Julião, não, hem? Pode se fazer outra coisa. Tu deves saber. O cabelo não! Não! Isso não, pelo amor de Deus! Ela não está em perigo. Para quê?

Mas aquela massa de cabelo era o diabo, impedia a ação da água!

- Amanhã, se for necessário. Amanhã! Espera até amanhã... Obrigado, Julião, obrigado!

Julião consentiu, contrariado. Fazia então umedecer constantemente as compressas da cabeça, e como Mariana trémula, desjeitosa, molhava muito o travesseiro, foi Sebastião que se colocou à cabeceira da cama, toda a noite, espremendo sem cessar uma esponja, de onde a água gotejava lentamente; tinham jarros fora da varanda, na sala, para dar à água uma frialdade gelada. O delírio alta noite acalmara um pouco. Mas o seu olhar injetado tinha uma aspecto selvagem: as pupilas pareciam apenas um ponto negro.

Jorge, sentado aos pés da cama, com a cabeça entre as mãos, olhava para ela: lembravam-lhe vagamente outras noites de doença assim, quando ela tivera





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