.. Voltou ao quarto, atraído irresistivelmente; sentiu na alcova o ruído seco e metálico das tesouras; sobre a mesa, numa caixa de sabão, estava um velho pincel de barba, entre flocos de espuma... Chamou Sebastião baixo:
- Dize-lhe que se avie! Estão-me a matar a fogo lento! É demais. Que ande depressa!
Foi à sala de jantar, errou pela casa; a manhã fria clareava; erguera-se vento, que ia levando, aos pedaços, nuvens de um tom alvadio.
Quando tornou a entrar no quarto, o barbeiro guardava as navalhas com a mesma lentidão mole; e tomando o seu chapéu desabado, saiu em bicos de pés murmurando num tom funerário:
- Estimo as melhoras. Deus há de permitir que não seja nada...
O delírio com efeito daí a uma hora acalmou; - e Luísa caiu numa sonolência prostrada com gemidos fracos, que saíam de seus lábios como a lamentação interior da vida vencida.
Jorge tinha então dito a Sebastião que desejava chamar o Dr. Caminha. Era um médico velho que tratara a sua mãe, e que curara Luísa da pneumonia, no segundo ano de casada. Jorge conservara uma admiração agradecida por aquela reputação antiquada; e agora a sua esperança voltava-se sofregamente para ele, ansiando pela sua presença como pela aparição de um santo.
Julião condescendeu logo. Até estimava! E Sebastião desceu correndo, para ir a casa do Dr. Caminha.
Luísa, que saíra um momento do seu torpor, sentiu-os falar baixo. A sua voz extinta chamou Jorge:
- Cortaram-me o cabelo... - murmurou tristemente.
- É para te fazer bem - disse-lhe Jorge, quase tão agonizante como ela. - Cresce logo. Até te vem melhor...
- Ela não respondeu; duas lágrimas silenciosas, correram-lhe pelos cantos dos olhos.
Devia ser a última sensação; a prostração comatosa ia-a