O melhor era um rosário...
- Um rosário?
- Uma relíquia! Foi benzido primeiro pelo patriarca de Jerusalém sobre o túmulo de Cristo, depois pelo papa...
Ah! Porque tinha estado com o papa! Um velhinho muito asseado, já todo branquinho, vestido de branco, muito amável!
- Tu dantes não eras muito devota - disse.
- Não, não sou muito caturra nessas coisas - respondeu rindo.
- Lembras-te da capela da nossa casa em Almada?
Tinham passado ali lindas tardes! Ao pé da velha capela morgada havia um adro todo cheio de altas ervas floridas - e as papoulas, quando vinha a aragem, agitavam-se como asas vermelhas de borboletas pousadas...
- E a tília, lembras-te, onde eu fazia ginástica?
- Não falemos no que lá vai!
Em que queria ela então que ele falasse? Era a sua mocidade, o melhor que tivera na vida...
Ela sorriu, perguntou:
- E no Brasil?
Um horror! Até fizera a corte a uma mulata.
- E por que te não casaste?... Estava a mangar! Uma mulata!
- E de resto - acrescentou com a voz de um arrependimento triste -, já que me não casei quando devia - encolheu os ombros melancolicamente -, acabou-se... Perdi a vez. Ficarei solteiro.
Luísa fez-se escarlate. Houve um silêncio.
- E qual é o outro presente, então, além do rosário?
- Ah! Luvas. Luvas de verão, de peau de suede, de oito botões. Luvas decentes. Vocês aqui usam umas luvitas de dois botões, a ver-se o punho, um horror!
De resto pelo que tinha visto, as mulheres em Lisboa cada dia se vestiam pior! Era atroz! Não dizia por ela; até aquele vestido tinha chique, era simples, era honesto. Mas em geral era um horror. Em Paris! Que deliciosas, que frescas as toaletes daquele verão! Oh! Mas em Paris!... Tudo é superior! Por exemplo, desde que chegara ainda não pudera comer.