O Primo Basílio - Cap. 3: CAPÍTULO III Pág. 52 / 414

O melhor era um rosário...

- Um rosário?

- Uma relíquia! Foi benzido primeiro pelo patriarca de Jerusalém sobre o túmulo de Cristo, depois pelo papa...

Ah! Porque tinha estado com o papa! Um velhinho muito asseado, já todo branquinho, vestido de branco, muito amável!

- Tu dantes não eras muito devota - disse.

- Não, não sou muito caturra nessas coisas - respondeu rindo.

- Lembras-te da capela da nossa casa em Almada?

Tinham passado ali lindas tardes! Ao pé da velha capela morgada havia um adro todo cheio de altas ervas floridas - e as papoulas, quando vinha a aragem, agitavam-se como asas vermelhas de borboletas pousadas...

- E a tília, lembras-te, onde eu fazia ginástica?

- Não falemos no que lá vai!

Em que queria ela então que ele falasse? Era a sua mocidade, o melhor que tivera na vida...

Ela sorriu, perguntou:

- E no Brasil?

Um horror! Até fizera a corte a uma mulata.

- E por que te não casaste?... Estava a mangar! Uma mulata!

- E de resto - acrescentou com a voz de um arrependimento triste -, já que me não casei quando devia - encolheu os ombros melancolicamente -, acabou-se... Perdi a vez. Ficarei solteiro.

Luísa fez-se escarlate. Houve um silêncio.

- E qual é o outro presente, então, além do rosário?

- Ah! Luvas. Luvas de verão, de peau de suede, de oito botões. Luvas decentes. Vocês aqui usam umas luvitas de dois botões, a ver-se o punho, um horror!

De resto pelo que tinha visto, as mulheres em Lisboa cada dia se vestiam pior! Era atroz! Não dizia por ela; até aquele vestido tinha chique, era simples, era honesto. Mas em geral era um horror. Em Paris! Que deliciosas, que frescas as toaletes daquele verão! Oh! Mas em Paris!... Tudo é superior! Por exemplo, desde que chegara ainda não pudera comer.





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