O Primo Basílio - Cap. 3: CAPÍTULO III Pág. 51 / 414

Fora sempre o seu desejo viajar - dizia -,ir ao Oriente. Quereria andar em caravanas, balouçada no dorso dos camelos; e não teria medo, nem do deserto, nem das feras...

- Estás muito valente! - disse Basílio. - Tu eras uma maricas, tinhas medo de tudo... Até da adega, na casa do papá, em Almada!

Ela corou. Lembrava-se bem da adega, com a sua frialdade subterrânea que dava arrepios! A candeia de azeite pendurada na parede alumiava com uma luz avermelhada e fumosa as grossas traves cheias de teias de aranha, e a fileira tenebrosa das pipas bojudas. Havia ali ás vezes, pelos cantos, beijos furtados...

Quis saber então o que tinha feito em Jerusalém; se era bonito.

Era curioso. Ia pela manhã um bocado ao Santo Sepulcro; depois do almoço montava a cavalo... Não se estava mal no hotel; inglesas bonitas... Tinha algumas intimidades ilustres...

Falava delas, devagar, traçando a perna; o seu amigo, o patriarca de Jerusalém, a sua velha amiga, a Princesa de La Tour d'Auvergne! Mas o melhor do dia era de tarde - dizia - no Jardim das Oliveiras, vendo defronte as muralhas do Templo de Salomão, ao pé a aldeia escura de Betânia onde Marta fiava aos pés de Jesus, e mais longe, faiscando imóvel sob o sol, o Mar Morto! E ali passava sentado num banco, fumando tranquilamente o seu cachimbo!

Se tinha corrido perigos?

Decerto. Uma tempestade de areia no deserto de Petra! Horrível! Mas que linda viagem, as caravanas, os acampamentos! Descreveu a sua toalete, uma manta de pele de camelo às listras vermelhas e pretas, um punhal de Damasco numa cinta de Bagdá, e a lança comprida dos beduínos.

- Devia-te ficar bem!

- Muito bem. Tenho fotografias.

Prometeu dar-lhe uma, e acrescentou:

- Sabes que te trago presentes?

- Trazes? - E os seus olhos brilhavam.





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