E conservando na sua mão a mão de Basílio:
- Rua do Ferregial de Cima, número três, terceiro. O modesto tugúrio de um eremita.
Tomou a curvar-se diante de Luísa:
- E quando escrever ao nosso viajante, que faço sinceros votos pela prosperidade dos seus empreendimentos. Por quem é! Criado de Vossa Excelência. E direito, grave, saiu.
- Este ao menos é limpo - resmungou Basílio, com o charuto ao canto da boca.
Sentara-se outra vez ao piano, corria os dedos pelo teclado. Luísa aproximou-se:
- Canta alguma coisa, Basílio!
Basílio pôs-se então a olhar muito para ela.
Luísa corou, sorriu; através da fazenda clara e transparente do vestido, entrevia-se a brancura macia e láctea do colo e dos braços; e nos seus olhos, na cor quente do rosto havia uma animação e como uma vitalidade amorosa.
Basílio disse-lhe, baixo:
- Estás hoje nos teus dias felizes, Luísa.
O olhar dele, tão ávido, perturbava-a; insistiu:
- Canta alguma coisa.
O seu seio arfava.
- Canta tu - murmurou Basílio.
E devagarinho, tomou-lhe a mão. As duas palmas um pouco úmidas, um pouco trémulas, uniram-se.
A campainha, fora, tocou. Luísa desprendeu a mão, bruscamente.
- É alguém - disse agitada.
Vozes baixas falavam à cancela.
Basílio teve um movimento de ombros contrariado; foi buscar o chapéu.
- Vais-te? - exclamou ela toda desconsolada.
- Pudera! Não posso estar só contigo um momento!
A cancela fechou-se com ruído. Não é ninguém, foi-se - disse Luísa.
Estavam de pé, no meio da sala.
- Não te vás! Basílio!
Os seus olhos profundos tinham uma suplicação doce.