O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 95 / 414

Basílio pousou o chapéu sobre o piano; mordia o bigode um pouco nervoso.

- E para que queres tu estar só comigo? - disse ela. - Que tem que venha gente? - E arrependeu-se logo daquelas palavras.

Mas Basílio, com um movimento brusco, passou-lhe o braço sobre os ombros, prendeu-lhe a cabeça, e beijou-a na testa, nos olhos, nos cabelos, vorazmente.

Ela soltou-se a tremer, escarlate.

- Perdoa-me - exclamou ele logo, com um ímpeto apaixonado. - Perdoa-me. Foi sem pensar. Mas é porque te adoro, Luísa!

Tomou-lhe as mãos com domínio, quase com direito.

- Não. Hás de ouvir. Desde o primeiro dia que te tornei a ver estou doido por ti, como dantes, a mesma coisa. Nunca deixei de me morrer por ti. Mas não tinha fortuna, tu bem o sabes, e queria-te ver rica, feliz. Não te podia levar para o Brasil. Era matar-te, meu amor! Tu imaginas lá o que aquilo é! Foi por isso que te escrevi aquela carta, mas o que eu sofri, as lágrimas que chorei!

Luísa escutava-o imóvel, a cabeça baixa, o olhar esquecido; aquela voz quente e forte, de que recebia o bafo amoroso, dominava-a, vencia-a; as mãos de Basílio penetravam com o seu calor febril a substância das suas; e, tomada de uma lassidão, sentia-se como adormecer.

- Fala, responde! - disse ele ansiosamente, sacudindo-lhe as mãos, procurando o seu olhar avidamente.

- Que queres que te diga? - murmurou ela.

A sua voz tinha um tom abstrato, mal-acordado.

E desprendendo-se devagar, voltando o rosto:

- Falemos noutras coisas!

Ele balbuciava com os braços estendidos:

- Luísa! Luísa!

- Não, Basílio, não!

E na sua voz havia o arrastado de uma lamentação, com a moleza de uma carícia.

Ele então não hesitou, prendeu-a nos braços.

Luísa ficou inerte, os beiços





Os capítulos deste livro