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Capítulo 1: Capítulo 1

Página 11
Já não exigia decerto, como em rapaz, uma Lisboa de Catões e de Mucios-Scevolas. Já admitia mesmo o esforço de uma nobreza para manter o seu privilégio histórico; mas então queria uma nobreza inteligente e digna, como a Aristocracia tory (que o seu amor pela Inglaterra lhe fazia idealizar), dando em tudo a direcção moral, formando os costumes e inspirando a literatura, vivendo com fausto e falando com gosto, exemplo de ideias altas e espelho de maneiras patrícias... O que não tolerava era o mundo de Queluz, bestial e sórdido.

Tais palavras, apenas soltas, voavam a Queluz. E quando se reuniram as cortes gerais, a polícia invadiu Benfica, «a procurar papéis e almas escondidas.»

Afonso da Maia, com o seu filho nos braços e a mulher tremendo ao lado - viu, impassivelmente e sem uma palavra, a busca, as gavetas arrombadas pela coronha das escopetas, as mãos sujas do malsim rebuscando os colchões do seu leito. O Sr. juiz de fora não descobriu nada: aceitou mesmo na copa um cálice de vinho, e confessou ao mordomo «que os tempos iam bem duros...» Desde essa manhã as janelas do palacete conservaram-se cerradas; não se abriu mais o portão nobre para sair o coche da senhora; e daí a semanas, com a mulher e com o filho, Afonso da Maia partia para Inglaterra e para o exílio.

Aí instalou-se, com luxo, para uma longa demora, nos arredores de Londres, junto a Richmond, ao fundo de um parque, entre as suaves e calmas paisagens de Surrey.

Os seus bens, graças ao crédito do conde de Runa, antigo mimoso de D. Carlota Joaquina, hoje conselheiro ríspido do Sr. D. Miguel, não tinham sido confiscados; e Afonso da Maia podia viver largamente.

Ao princípio os emigrados liberais, Palmela e a gente do Belfast, ainda o vieram desassossegar e consumir. A sua alma recta não tardou a protestar vendo a separação de castas, de hierarquias, mantidas ali na terra estranha entre os vencidos da mesma ideia – os fidalgos e os desembargadores vivendo no luxo de Londres à forra, e a plebe, o exercito, depois dos padecimentos da Galiza, sucumbindo agora à fome, à vermina, à febre nos barracões de Plymouth.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 11

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605