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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 236

Na rua negra, a parelha quieta dobrava a cabeça sob a chuva. O Canhoto, ao ouvir falar de uma gorjeta de libra, fez um grande espalhafato, rompeu às chicotadas; e a velha traquitana lá partiu a galope, a escorrer d'agua, atroando a calçada.

Por vezes um coupé particular cruzava-os, os casacos de guta-percha dos criados branquejavam à luz das lanternas. Então a ideia da festa que devia agora resplandecer; Margarida ignorando tudo, valsando nos braços doutros, ansiosa, à espera dele; a ceia depois, o champagne, as coisas brilhantes que ele teria dito - todas estas delicias perdidas se vinham cravar no coração do pobre Ega, arrancavam-lhe pragas surdas, Carlos fumava silenciosamente, com o pensamento no Hotel Central.

Depois de Santa Apolónia a estrada começou, infindável, desabrigada, batida pelo ar agreste do rio. Nenhum dizia uma palavra, cada um para o seu canto, arrepiados na friagem que entrava pelas gretas da tipoia. Carlos não cessava de ver o casaco branco de veludo, com as duas mangas abertas, como dois braços que se ofereciam...

Passava da uma hora quando chegaram à quinta: a sineta do portão, aos puxões do cocheiro encharcado, retumbou lúgubre naquele silêncio escuro de aldeia. Um cão ladrou furiosamente: outros latidos ao longe responderam; e ainda esperaram muito, antes que um criado, sonolento e resmungão, aparecesse com uma lanterna. Uma rua de Acácias conduzia à casa: o Ega praguejava, enterrando os seus belos sapatos de veludo no chão lamacento.

Craft, surpreendido com aquele tumulto, veio-lhes ao encontro no corredor, de robe-de-chambre, e a Revista dos Dois Mundos debaixo do braço. Percebeu logo que havia desastre. Levou-os em silêncio para o seu gabinete onde um bom lume de carvão na chaminé aquecia, alegrava o aposento todo estofado de cretones claros. Ambos foram direitos ao lume.

Ega rompera logo a contar o seu caso - enquanto Craft, sem espanto nem exclamações, ia preparando metodicamente sobre a mesa três grogs de cognac e limão.

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pág. 236 (Capítulo 9)

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 236

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605