Os Maias - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 256 / 630

Teles da Gama, rindo sempre e gingando, jurou que andava a arranjar a sua sala de jantar para dar à Sr.ª condessa uma festa, que havia de ficar nos anais do reino! Agora com o Maia era diferente: jantavam ambos na cozinha, com os pratos sobre os joelhos. E abalou, gingando sempre, rindo ainda da porta, mostrando os dentes magníficos.

- Muito alegre, este Gama, não é verdade? disse a condessa.

- Muito alegre, disse Carlos.

Então a condessa olhou o relógio. Eram cinco e meia, àquela hora ela já não recebia: podiam, enfim, conversar um momento, em boa camaradagem. E, o que houve, foi um silêncio lento, em que os olhos de ambos se encontraram. Depois Carlos perguntou por Charlie, o seu lindo doente. Não estava bem, com uma ligeira tosse apanhada no passeio da Estrela. Ah, aquela criança nunca deixava de lhe dar o cuidado! Ficou calada, com o olhar esquecido no tapete, movendo languidamente o leque: tinha nessa tarde uma toilete exagerada, de um tom de folha de outono amarelada, de uma seda grossa, que ao menor movimento fazia um ruge-ruge de folhas secas.

- Que lindo tempo tem feito! exclamou ela de repente, como acordando.

- Lindo! disse Carlos. Eu estive há dias em Sintra, e não imagina... Era de uma beleza de idílio.

E imediatamente arrependeu-se, quis-se mal por ter falado da sua ida a Sintra, naquela sala.

Mas a condessa mal o escutara. Tinha-se erguido, falando de algumas canções que essa manhã recebera de Inglaterra, as novidades frescas da season. Depois, sentou-se ao piano, correu os dedos no teclado, perguntou a Carlos se conhecia aquela melodia - The pale star. Não, Carlos não conhecia. Mas todas essas canções inglesas se parecem, sempre do mesmo tom dolente, romanesco, e muito miss. E trata-se sempre de um parque melancólico, um regato lento, um beijo sob os castanheiros...

Então a condessa leu alto a letra da Pale star. E era a mesma coisa, uma estrelinha de amor palpitando no crepúsculo, um lago pálido, um tímido beijo sob as árvores...

- É sempre o mesmo, disse Carlos, e é sempre delicioso.





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