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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 265

Foram seguindo pelo meio da rua, em direcção ao Ferregial. Adiante do Grémio, encostado ao passeio, estava um coupé da Companhia, com um trintenário de luvas brancas esperando junto ao portal. Carlos olhou, casualmente; e viu, debruçado à portinhola, um rosto de criança, de uma brancura adorável, sorrindo-lhe, com um belo sorriso que lhe punha duas covinhas na face. Reconheceu-a logo. Era Rosa, era Rosicler: e ela não se contentou em sorrir, com o seu doce olhar azul fugindo todo para ele, - deitou a mãozinha de fora, atirou-lhe um grande adeus. No fundo do coupé, forrado de negro, destacava um perfil claro de estátua, um tom ondeado de cabelo louro. Carlos tirou profundamente o chapéu, tão perturbado, que os seu passos hesitaram. Ela abaixou a cabeça, de leve; alguma coisa de luminoso, um confuso rubor de emoção, espalhou-se-lhe no rosto. E fugitivamente foi como se, da mãe e da filha, ao mesmo tempo, viesse para ele uma suave e quente emanação de simpatia.

- Caramba, aquilo pertence-lhe? perguntou o marquês, que notara a impressão de Madame Gomes.

Carlos corou.

- Não, é uma senhora brasileira a quem eu curei aquela pequerrucha...

- Irra! que gratidão! rosnou o outro de dentro das dobras do seu cachenés.

Caminhando em silêncio pelo Ferregial, Carlos revolvia uma ideia que lhe viera de repente, ao receber aquele doce olhar. Por que é que Dâmaso não levaria uma manhã o Castro Gomes aos Olivais, a ver as colecções do Craft?... Ele estaria lá, abria-se uma garrafa de Champagne, discutiam bric-à-brac. Depois, muito naturalmente, ele convidava Castro Gomes a almoçar no Ramalhete, para lhe mostrar o grande Rubens, e as suas velhas colchas da Índia. E assim, já antes das corridas existiria entre eles uma camaradagem, talvez um tratamento de você.

No Aterro, temendo o ar do rio, o marquês quis tomar uma tipoia; e, até ao Ramalhete, continuaram calados. O marquês, outra vez inquieto, apalpava a garganta. Carlos discutia complicadamente consigo aquela lenta inclinação de cabeça, o olhar dela, o vivo rubor fugitivo... Ela até aí não o conhecia talvez.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 265

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605