À entrada para o hipódromo, abertura escalavrada num muro de quintarola, o fáeton teve de parar atrás do dog-cart do homem gordo - que não podia também avançar porque a porta estava tomada pela caleche de praça, onde um dos sujeitos de flor ao peito berrava furiosamente com um polícia. Queria que se fosse chamar o Sr. Savedra! O Sr. Savedra, que era do Jockey Club, tinha-lhe dito que ele podia entrar sem pagar a carruagem! Ainda lho dissera na véspera, na botica do Azevedo! Queria que se fosse chamar o Sr. Savedra! O polícia bracejava, enfiado. E o cavaleiro, tirando as luvas, ia abrir a portinhola, esmurrar o homem - quando, trotando na grande horsa, um municipal de punho alçado correu, gritou, injuriou o cavaleiro gordo, fez rodar para ora a caleche. Outro municipal intrometeu-se, brutalmente. Duas senhoras, agarrando os vestidos, fugiram para um portal, espavoridas. E através do reboliço, da poeira, sentia-se adiante, melancolicamente, um realejo tocando a Traviata.
O fáeton entrou - atrás do dog-cart, onde o homem gordo, a estoirar de fúria, voltava ainda para traz a face escarlate, jurando dar parte do municipal.
- Tudo isto está arranjado com decência, murmurou Craft.
Diante deles, o hipódromo elevava-se suavemente em colina, parecendo, depois da poeirada quente da calçada e das cruas reverberações da cal, mais fresco, mais vasto, com a sua relva já um pouco crestada pelo sol de junho, e uma ou outra papoula vermelhejando aqui e além. Uma aragem larga e repousante chegava vagarosamente do rio.
No centro, como perdido no largo espaço verde, negrejava, no brilho do sol, um magote apertado de gente, com algumas carruagens pelo meio, de onde sobressaíam tons claros de sombrinhas, o faiscar de um vidro de lanterna, ou um casaco branco de cocheiro. Para além, dos dois lados da tribuna real forrada de um baetão vermelho de mesa de Repartição, erguiam-se as duas tribunas públicas, com o feitio de traves mal pregadas, como palanques de arraial. A da esquerda vazia, por pintar, mostrava à luz as fendas do tabuado.