E Carlos, furando, pôde enfim avistar no meio do montão um dos sujeitos que correra no premio dos Produtos, o que montava Júpiter, ainda de botas, com um paletó alvadio por cima da jaqueta de jockey, furioso, perdido, injuriando o juiz das corridas, o Mendonça, que arregalava os olhos, aturdido e sem uma palavra. Os amigos do jockey puxavam-no, queriam que ele fizesse um protesto. Mas ele batia o pé, trémulo, lívido, gritando que não se importava nada com protestos! Perdera a corrida por uma pouca-vergonha! O protesto ali era um arrocho! Porque o que havia naquele hipódromo era compadrice e ladroeira!
Indivíduos, mais sérios, indignaram-se com esta brutalidade.
- Fora! Fora!
Alguns tomavam o partido do jockey; já aos lados outras questões surgiam, desabridas. Um sujeito vestido de cinzento berrava que o Mendonça decidira pelo Pinheiro, que montava Escocês, por ser íntimo dele; outro cavalheiro, de binóculo a tiracolo, achava aquela insinuação infame; e os dois, frente a frente, com os punhos fechados, tratavam-se furiosamente de pulhas.
E, todo este tempo, um homem baixote, de grandes colarinhos de pintinhas, procurava romper, erguia os braços, exclamava, numa voz suplicante e rouca:
- Por quem são, meus senhores... Um momento... Eu tenho experiência... Eu tenho experiência!
De repente o vozeirão do Vargas dominou tudo, como um urro de toiro. Diante do jockey, sem chapéu, com a face a estoirar de sangue, gritava-lhe que era indigno de estar ali, entre gente decente! Quando um gentleman duvida do juiz da corrida, faz um protesto!