Teles da Gama, esquecido da sua aposta, todo pelo Darque, seu íntimo, berrava por Vladimiro. A russa, de pé num degrau, apoiada sobre o ombro de Carlos, pálida, excitada, animava Minhoto com gritinhos, com pancadas de leque. A agitação daquele canto da tribuna estendera-se em baixo ao recinto - onde se via uma linha de homens, contra a corda da pista, bracejando. Do outro lado, era uma fila de rostos pálidos, fixos numa curta ansiedade. Algumas senhoras tinham-se posto de pé nas carruagens. E através da colina, para ver a chegada, dois cavaleiros, segurando com as mãos os chapéus baixos, corriam à desfilada.
- Vladimiro! Vladimiro! foram de novo os gritos isolados, aqui, além.
Os dois cavalos aproximavam-se, com um som surdo das patas, trazendo um ar de rajada.
- Minhoto! Minhoto!
- Vladimiro! Vladimiro!
Chegavam... De repente o jockey inglês de Vladimiro, todo em fogo, levantando o potro que lhe parecia fugir dentre as pernas, esticado e lustroso, fez silvar triunfantemente o chicote, e de um arremesso directo lançou-o além da meta, duas cabeças adiante de Minhoto, todo coberto de espuma.
Então em volta de Carlos foi uma desconsolação, um longo murmúrio de lassidão. Todos perdiam; ele apanhava a poule, ganhava as apostas, empolgava tudo. Que sorte! Que chance! Um adido italiano, tesoureiro da poule, empalideceu ao separar-se do lenço cheio de prata: e de todos os lados mãozinhas calçadas de gris-perle, ou de castanho, atiravam-lhe com um ar amuado as apostas perdidas, chuva de placas que ele recolhia, rindo, no chapéu.
- Ah, monsieur, exclamou a vasta ministra da Baviera, furiosa, mefiez-vous... Vous conaissez le proverbe: heureux au jeu...
- Helas! madame! disse Carlos, resignado, estendendo-lhe o chapéu.
E outra vez um dedo subtil tocou-lhe no braço. Era o secretario de Steinbroken, lento e silencioso, que lhe trazia o seu dinheiro e o dinheiro do seu chefe, a aposta do reino da Finlândia.
- Quanto ganha você? exclamou Teles da Gama, assombrado.