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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 295
Mas ele não obedeceu logo, parado ao pé dos degraus da tribuna, acendendo vagamente uma cigarrete, perturbado por todas aquelas palavras do Dâmaso que lhe deixavam na alma um sulco luminoso. Agora que a sabia só em Lisboa, vivendo na mesma casa do Cruges, parecia-lhe que já a conhecia, sentia-se muito perto dela - podendo assim a todo o momento entrar os ombrais da sua porta, pisar os degraus que ela pisava. Na sua imaginação transluziam já possibilidades de um encontro, alguma palavra trocada, coisas pequeninas, subtis como fios, mas por onde os seus destinos se começariam a prender... E imediatamente veio-lhe a tentação pueril de ir lá, logo nessa mesma tarde, nesse instante, gozar como amigo do Cruges o direito de subir a escada dela, parar diante da porta dela - e surpreender uma voz, um som de piano, um rumor qualquer da sua vida.

O olhar da condessa não o deixava. Ele aproximou-se, enfim, contrariado: ela ergueu-se logo, deixou o seu grupo, e dando alguns passos com ele pela relva, recomeçou a falar na ida a Santarém. Carlos, então, muito secamente, declarou toda essa invenção insensata.

- Porquê?...

Ora porquê! Por tudo. Pelo perigo, pelos desconfortos, pelo ridículo... Enfim, a ela como mulher ficava-lhe bem ter fantasias pitorescas de romance; mas a ele competia-lhe ter bom senso.

Ela mordia o beiço, com todo o sangue na face. E não via ali bom senso. Via só frieza. Quando ela arriscava tanto, ele podia bem, por uma noite, afrontar os desconfortos da estalagem...

- Mas não é isso!...

Então que era? Tinha medo? Não havia mais perigo do que nas idas a casa da titi. Ninguém a podia conhecer, com outra cor de cabelo, toda a sorte de véus, disfarçada num grande water-proof. Chegavam de noite, entravam para o quarto, de onde não saíam mais, servidos apenas pela escocesa. No dia seguinte, no comboio da noite, ela seguia para o Porto, tudo acabava... E naquela insistência ela era o homem, o sedutor, com a sua veemência de paixão activa, tentando-o, soprando-lhe o desejo; enquanto ele parecia a mulher, hesitante e assustada.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 295

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605