Citavam-se os requintes do seu luxo, roupas brancas, rendas do valor de propriedades!... Podia fazê-lo! o marido era rico, e ela sem escrúpulo arruiná-lo-ia, a ele e ao papá Monforte...
Todos os amigos de Pedro, naturalmente, a amavam. O Alencar esse proclamava-se com alarido seu «cavaleiro e seu poeta». Estava sempre em Arroios, tinha lá o seu talher: por aquelas salas soltava as suas frases ressoantes, por esses sofás arrastava as suas poses de melancolia. Ia dedicar a Maria (e nada havia mais extraordinário que o tom langoroso e plangente, o olho turvo, fatal, com que ele pronunciava este nome - MARIA!) ia dedicar-lhe o seu poema, tão anunciado, tão esperado - FLOR DE MARTYRIO! E citavam-se as estrofes que lhe fizera ao gosto cantante do tempo:
Vi-te essa noite no esplendor das salasCom as loiras tranças volteando louca...
A paixão do Alencar era inocente: mas, dos outros íntimos da casa, mais de um decerto balbuciara já a sua declaração no boudoir azul em que ela recebia às três horas, entre os seus vasos de tulipas; as suas amigas porém, mesmo as piores, afirmavam que os seus
favores nunca teriam passado de alguma rosa dada num vão de janela, ou de algum longo e suave olhar por traz do leque. Pedro todavia começava a ter horas sombrias. Sem sentir ciúmes, vinha-lhe às vezes, de repente, um tédio daquela existência de luxo e de festa, um desejo violento de sacudir da sala esses homens, os seus íntimos, que se atropelavam assim tão ardentemente em volta dos ombros decotados de Maria.
Refugiava-se então nalgum canto, trincando com furor o charuto: e aí, era em toda a sua alma um tropel de coisas dolorosas e sem nome...
Maria sabia perceber bem na face do marido «estas nuvens», como ela dizia. Corria para ele, tomava-lhe ambas as mãos, com força, com domínio:
- Que tens tu, amor? Estás amuado!
- Não, não estou amuado...
- Olha então para mim!...